segunda-feira, 11 de julho de 2016

Angola/UMA UNIÃO AFRICANA ACTUANTE



10 de Julho, 2016, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

José Ribeiro

A importância de a União Africana assumir um papel mais activo nas questões respeitantes ao nosso continente é uma necessidade imperiosa.

Mas o que se sente é que a nossa organização continental anda desatenta ao que lhe passa à volta, e é muita coisa. A situação internacional é hoje atravessada por problemas extremamente complexos e com contornos que parecem escapar ao controlo até dos líderes dos países mais poderosos do planeta.
 
O exemplo do “brexit” não podia ser melhor para ilustrar a irresponsabilidade de uns poucos países no mundo que arrasta consequências graves para muitos cidadãos de outros países. A necessidade de se reafirmarem as plataformas de reflexão, de diálogo construtivo e de busca de soluções comuns é, assim, fundamental. Os líderes dos Estados africanos precisam de fazer vincar a sua sabedoria e força, de modo a serem salvaguardados os interesses dos povos deste
grande continente que tem todas as condições para registar um forte crescimento nas próximas décadas, mas cujas perspectivas de evolução não estão cabalmente estudadas pelos organismos africanos, antes deixadas ao critério de entidades extra-africanas que manipulam dados e indicadores a seu bel-prazer.

As mudanças rápidas que se operam no mundo exigem a maior atenção e o pronto acompanhamento pelas instituições africanas, de modo a evitar que as crises se agravem e degenerem em conflitos prolongados e insanáveis ou que as nações percam a passada histórica e sejam irremediavelmente atropeladas na caminhada imparável para o desenvolvimento e a modernidade. O caos por que passaram alguns países africanos nos tempos mais recentes, de que a Líbia é apenas o exemplo, veio revelar como alguns dos grandes acontecimentos fogem ao controlo das instituições representativas de África.
 
Mas os incidentes repetem-se. E, para o provar, aí está o clima de tensão que regressou nos últimos dois dias ao Sudão do Sul, que comemorou o quinto aniversário da sua independência com confrontos na capital do país, Juba, entre o Exército Nacional e os ex-rebeldes que provocaram a morte de 150 soldados. Na véspera do aniversário, os confrontos começaram de um simples desentendimento entre os seguranças do Presidente Salva Kiir e os do Vice-Presidente Riek Machar, trazendo de volta os receios sobre um fracasso do processo de paz após o regresso de Riek Machar a Juba, que celebrou o fim da guerra civil de mais de dois anos.

A União Africana deve exercer não apenas a sua função de prevenir e solucionar conflitos, mas também de tomar parte nos processos ligados aos desafios da modernidade e do desenvolvimento que são colocados aos países africanos. Não haverá, provavelmente, uma organização regional como a União Africana que tenha aprovado tantos documentos e tomado tantas decisões que acabaram por resultar em letra morta.
 
O trabalho que é publicado no Suplemento Fim-de-Semana desta edição sobre a falta de capacidade e de soluções de África no seu conjunto para a complicada equação técnica de transitar do sistema de televisão analógico para o modelo de Televisão Digital Terrestre (TDT), que estaria votado ao fracasso, não fosse a ajuda da China, é bem o exemplo das novas grilhetas a que o continente está amarrado.
 
A comparação com a China, que em 60 anos passou de um país de características medievais e com grandes problemas de fome e pobreza entre a população para um continente possuidor de uma economia que dá cartas na cena internacional e rivaliza com os Estados Unidos o lugar de primeira economia mundial, é um bom exemplo para África. Estive pela primeira vez em Pequim no ano de 1995, altura em que a capital chinesa parecia um estaleiro de obras e, ao voltar 21 anos depois, confesso que  não reconheci a mesma cidade.
 
A Pequim de hoje em nada fica a dever às mais modernas metrópoles ocidentais, está mais arejada, as jovens chinesas mais alegres, perdeu muito daquele sentimento claustrofóbico que se sentia nas cidades do antigo bloco dos países do Leste europeu e é um destino apetecível dos turistas de todo o mundo. No entanto, ninguém que não seja um qualquer desequilibrado poderá vir dizer que a tradição e os valores culturais do povo chinês foram esmagados pela modernidade. Em mais nenhum país estão tão presentes como hoje e adquiriram mesmo, com a inovação social, uma superior qualidade.

Tudo afinal tem a ver com a visão de futuro e um trabalho abnegado. O continente africano tem todo o potencial para fazer esse mesmo percurso para a modernidade sem descurar a sua idiossincrasia. Mas para isso precisa de instituições fortes dirigidas por líderes aplicados. Sem estarem todos a remar na mesma direcção, não há maneira de chegar a bom porto.

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