terça-feira, 28 de junho de 2016

Moçambique/CELEBREMOS SAMORA




O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, exortou ontem, em Maputo, ao povo moçambicano a fazer das celebrações do 30º aniversário da Tragédia de Mbuzine, um momento da consolidação da paz, unidade nacional,promoção do progresso social e económico, valores nobres defendidos por todos que tombaram em defesa da pátria e de um Moçambique próspero, indivisível, como é o caso do saudoso Presidente Samora Moisés Machel.

Filipe Nyusi fez esta exortação momentos depois de depositar uma coroa de flores no Monumento dos Heróis Moçambicanos. A mesma marca o lançamento do programa comemorativo do 30º aniversário da Tragédia de Mbuzine, na qual perdeu a vida o proclamador da independência e primeiro Presidente da República, Samora Moisés Machel, a decorrer sob o lema: 30 Anos de Mbuzini, Celebrando a Vida e Obra de Samora Machel

Dirigindo-se à Nação a partir
do pódio montado na Praça dos Heróis, Filipe Nyusi afirmou que celebrar a vida e obra de Samora Machel é exaltar um nacionalista, patriota de elevada craveira, líder visionário e estadista por excelência, o homem que proclamou a Independência Nacional e projectou Moçambique no tempo e no espaço.

“Em nome do Governo da República de Moçambique, exortamos a todos os moçambicanos em todo o território nacional e na diáspora a se envolver intensamente no movimento de celebração da vida de Samora Machel, enaltecendo e aprofundando a unidade e coesão entre nós, consolidando a paz e promovendo o progresso social e económico do nosso belo país”,disse na sua exortação perante altos dignitários do Estado e outras figuras de índole político e social.

Segundo afirmou, nenhum nome se confundiu tanto com o nome de Moçambique como a de Machel. “Nenhuma vida se confundiu tanto com os nossos próprios sonhos de liberdade. Trinta anos depois, a sua iluminada palavra continua a ser escutada em todos os recantos da nossa nação. Trinta anos depois as ideias e as profecias de Machel continuam a trazer esperança para todos os patriotas”, disse o Presidente da República, acrescentando que a vida e obra de Samora Machel não são apenas objecto de celebração do passado, mas permanecem uma referência viva para as gerações que lhe seguiram.

Para o Chefe do Estado, a dimensão de um político se mede não apenas pelo modo como é aclamado pelos seus seguidores, mas pela forma como é respeitado pelos seus opositores. “Samora Machel alcançou admiração e respeito por causa da sua estatura moral, da sua integridade moral e do seu humanismo que superava fronteiras de raça, tribo, género ou religião”.

“Volvidos trinta anos após o seu desaparecimento físico, as suas lições perduram. O Presidente Machel permanece vivo. E inspira-nos a todos nós perante os desafios que a Nação e o Mundo enfrentam, como se de profecias se tratasse”, frisou o Chefe do Estado.
Nyusi sublinhou que Samora Machel foi bem mais que o fundador de uma nação livre e independente, “uma vez que continua a ser um alicerce do orgulho de sermos quem somos: solidários com os mais carentes, disponíveis para lutar pelos que sofrem, pelos que são excluídos. Samora, somos todos nós, moçambicanos de Norte a Sul”.

Acrescentou que ao recordar a vida e obra de Samora Machel se pretende renovar o compromisso de preservação da verdade e a liberdade, nobres conquistas da luta do povo moçambicano.

“Pretendemos, enfim, exaltar o seu papel no estabelecimento de relações de amizade, solidariedade e cooperação com todos os povos do Mundo. Neste momento que exaltamos a obra e os feitos de Samora Machel, estamos conscientes que as palavras não serão suficientes para exaltar a grandeza da sua herança. Compatriotas! Celebremos a vida de Samora. Samora vive em cada um de nós”,exortou o Presidente da Republica.

De referir que o programa comemorativo do trigésimo aniversário da tragédia de Mbuzine irá decorrer de 29 de Setembro, data em que Samora Machel nasceu, até 19 de Outubro, dia em que perdeu a vida com outras 33 pessoas no acidente de Mbuzini. O programa vai compreender um conjunto de actividades políticas, culturais e desportivas, do Rovuma ao Maputo e do Zumbu ao Índico.

Os desafios permanecem -- Armando Guebuza, antigo Chefe do Estado
O antigo Chefe do Estado, Armando Emílio Guebuza, diz que é preciso continuar a valorizar a Independência Nacional, sobretudo as conquistas, fazendo face aos desafios da actualidade, que passam pelo combate à pobreza. Para ele, o desafio continua a ser a consolidação da paz e da unidade entre os moçambicanos.

Instado a pronunciar-se sobre as crises económica, financeira e a dívida pública, Guebuza afirmou que o assunto já foi aflorado no Parlamento, onde o governo foi dar os devidos esclarecimentos convidando os cidadãos a aguardar serenamente.

“Eu gostaria de tornar claro que as causas dos problemas que temos hoje, que felizmente já foram apresentados e tornados públicos na ocasião por outros dirigentes e mostram que a crise não afecta só o nosso país, mas também outros a nível internacional, mas que no plano nacional a situação é agravada pela guerra, seca e cheias. Eu penso que podemos nos levantar firmemente para fazer face a esse desafio”, disse Armando Guebuza.
    
Moçambique precisa desenvolver-se -- Marina Pachinuapa, combatente da luta de libertação nacional
Marina Pachinuapa, combatente da luta de libertação nacional considera a celebração dos 41 anos da Independência Nacional como direito de todo o povo que ganhou a liberdade depois de muitos sacrifícios.

“O povo moçambicano teve o direito de ficar independente. Os 41 anos que completamos hoje (sábado), são motivo de orgulho e expressam a grandeza de um país que se libertou do jugo colonial português”, disse Marina Pachinuapa.

Para ela, o desafio que se segue é trabalhar no sentido de combater a pobreza que graça milhares dos moçambicanos. “Temos a terra, a nossa maior riqueza neste país, por isso todos somos chamados a dar a mão no processo de construção de um Moçambique, uno, próspero e indivisível”.
Sobre a tensão militar e a crise económica e financeira, aquela combatente afirmou que a crise económica não era só problema dos moçambicanos, afectando todo mundo quer países da Europa, Ásia, África e América.

“Em Moçambique a situação torna-se mais difícil por causa da instabilidade militar que se vive na região centro e norte. As pessoas que promovem esses actos de desordem deviam pôr a mão à consciência e perceber que Moçambique precisa de se desenvolver e para isso têm que parar com a guerra”, disse Marina Pachinuapa.

Não estamos mutilados, temos as mãos… -- Ornília Machel, filha do Presidente Samora Moisés Machel
Ornilia Machel, filha do falecido Presidente Samora Machel, entende que a melhor forma de celebrar esta efeméride é seguir as peugadas de todos aqueles que derramaram o seu sangue em defesa da integridade e libertação do país do jugo colonial português.

Acrescentou ainda que a melhor forma de dignificar tais homens é cada um dos moçambicanos colocar a mão na consciência e partir para trabalho árduo. “Não estamos mutilados, temos as mãos, cabeças, pelo que há que fazer o uso destes recursos que Deus nos deu para participar na construção do país, pelo que o desafio é continuar a trabalhar por forma a alcançar efectivamente a independência espiritual, liberdade de expressão e independência económica”.

Para ela, a independência é manchada pelos ataques da Renamo que acontecem em algumas regiões do país e que impedem a livre circulação de pessoas e bens.

Ninguém deve ficar alheio -- Manuel Tomé, membro da Frelimo
“Uma comemoração da Independência Nacional tem sempre um significado muito grande, porque é o momento em que nós nos revemos na história, uma história de libertação e de construção. Quarenta e um anos podem significar alguma coisa para um homem, mas na vida de uma nação continuam a não ser significativo. No entanto, vale apenas registar que não fossem os percalços imprevistos no processo de construção, Moçambique estaria muito desenvolvido. Mas estamos numa situação difícil a qual ninguém deve ficar ou estar alheio”, palavras de Manuel Tomé quando instado a pronunciar-se sobre o significado dos 41 anos da Independência Nacional.

No concernente às crises económica e financeira e tensão militar, aquele político afirmou que os moçambicanos devem ter a esperança de que tudo poder ser ultrapassado a qualquer momento. “Sobre a dívida pública, o Fundo Monetário Internacional já se reuniu com o Governo que até se explicou no Parlamento. Quanto ao diálogo, os preparativos estão no bom caminho. A Comissão Mista está a concertar, o resto é esperarmos que o encontro ao mais alto nível aconteça brevemente para a partir dai voltarmos à paz efectiva”.

As hostilidades militares ofuscam as celebrações -- Meriamo Comé, munícipe de Maputo
Meriamo Comé afirmou que se não fossem as hostilidades militares, os 41 anos da Independência teria um “sabor” expressivo dado o desenvolvimento que o país regista quer em infra-estruturas sociais, assim como do capital humano.
“Infelizmente, a questão das hostilidades militares entristece a maior parte dos cidadãos moçambicanos, em partícular eu própria, que perdi um irmão durante a guerra dos 16 anos movida pela Renamo. Portanto, estou com mágoas, porque não sei se ele continua vivo”, disse Comé, para quem a guerra está a atrofiar o desenvolvimento do nosso país.

Acrescentou que os moçambicanos estão esperançosos que o encontro entre o Presidente da República e o líder da Renamo ocorra o mais rápido possível no sentido de desanuviar a tensão. “Portanto, apelo ao irmão que está nas matas a tomar consciência dos seus actos e voltar ao convívio normal com os moçambicanos, porque a paz é o bem precioso que todos nós precisamos

Falta a independência económica -- Lutero Simango, do MDM
O chefe da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, reconhece a existência de algumas conquistas, fruto da luta contra a dominação colonial, mas refere que ainda falta conquistar a independência económica.
Segundo Lutero Simango, para isso, exige-se alguns requisitos básicos, dos quais a paz está em primeiro lugar, e depois é preciso haver uma reconciliação nacional efectiva e políticas de inclusão.

“Noto que temos ainda grandes desafios. É verdade que já alcançamos a independência política, a soberania, já temos a nossa bandeira nacional, hino, nossas instituições, que funcionam bem ou mal, mas elas existem. O 25 de Junho considero como um sol que brilha, então, tem que brilhar para todos. Portanto, o seu brilho requer políticas de inclusão”, disse.

Ainda sobre os desafios, Lutero Simango afirmou que é preciso resolver de uma vez para sempre os conflitos que o país enfrenta há décadas, que por causa disso, “estamos a viver em guerra e exclusão permanente. Se tu não separas o partido e o Estado, continuaremos a viver os mesmos problemas. É preciso ter políticas adequadas para o desenvolvimento da economia nacional. Não podemos continuar a viver na base de doações para o nosso orçamento do Estado”.
 
Inspirarmo-nos no passado -- Paulina Chiziane, escritora
A escritora moçambicana, Paulina Chiziane considera que a crise económica actual não é a primeira de que o país se ressente. Por isso, é necessário nos inspirarmos no passado, para depois reunir esforços para ultrapassá-lo.

“Temos que nos inspirar do passado, como é que no passado as crises foram superadas, e a partir daí reunir esforços para ultrapassar a actual. A dinâmica duma sociedade às vezes tem os seus momentos de crise. Se calhar esta crise é uma oportunidade para nos tornarmos mais fortes, crescermos e tomarmos consciência da nossa própria cidadania”, referiu Paulina Chiziane.

Falando ainda sobre os desafios do país, que celebrou ontem 41 anos de Independência, Chiziane disse que são vários em todos os sectores. Entretanto, para Chiziane a luta pela liberdade continua. “Esta data é a celebração da liberdade, aquele bem precioso pelo qual deve lutar toda a humanidade e por toda eternidade”.

Texto de Domingos Nhaúle

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