sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Angola/COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA

24 outubro 2014, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Angola, o Congo Democrático e a África do Sul estiveram reunidos esta semana em Luanda para debater questões ligadas à estabilidade e segurança na região, com ênfase na situação que se vive na RDC, marcada pela instabilidade.

Os problemas de instabilidade em África têm se arrastado por vários anos, causando situações de bloqueio ao desenvolvimento do continente, onde milhões de africanos não podem ainda desfrutar dos benefícios que as independências podiam proporcionar, em condições de paz. Na verdade, o sonho de todos os africanos era o de uma África completamente livre de conflitos armados e em que pudessem exclusivamente trabalhar para o seu bem-estar. Muitos países africanos alcançaram as independências há mais de 50 anos, tendo os pais fundadores dos Estados do continente lutado por uma África de progresso e com sociedades em que as instituições fossem estáveis e estivessem ao serviço dos povos. Conquistámos as nossas independências para vivermos felizes. Infelizmente, as armas não se calam em algumas regiões do continente, em virtude de haver forças que optam sistematicamente pela violência, para tirarem partido da destabilização que causam em
diversos Estados, negando-se a submeter-se ao veredicto dos povos nas urnas, em eleições periódicas, democráticas e multipartidárias. Ainda corre muito sangue em África, onde milhares de crianças  não podem ir à escola devido à guerra, os camponeses estão impedidos de cultivar a terra porque está minada e  um grande número de pessoas tem de deixar as suas casas e os seus países para se refugiar noutros Estados em que possa encontrar segurança e paz.
Um prestigiado estadista africano afirmou que a pacificação do continente passa pela resolução de problemas económicos e pela consolidação da democracia, devendo os políticos africanos assumir responsabilidades que vão ao encontro das aspirações dos povos do continente.

O fim das guerras deve ser a prioridade dos políticos africanos que, pelo facto de estarem em condições de, sob alguma forma, ajudar a construir sociedades melhores no continente, não devem perder a oportunidade para fazerem parte de acções nobres de salvaguarda dos interesses das populações de África. Os políticos africanos devem estar alinhados com o que os povos pretendem e pode saber-se facilmente o que estes desejam. A posição dos povos de África é de total negação às guerras, que não nos levam a lado nenhum e só nos causam muito sofrimento. Felizmente, há em África personalidades que compreendem e interpretaram bem as aspirações dos povos do continente e se têm empenhado, em representação dos seus países, e num quadro multilateral, em dar soluções pacíficas aos conflitos, criando mecanismos que possam levar africanos desavindos à unidade e à harmonia.

A criação de um mecanismo tripartido por parte de Angola, Congo Democrático e da África do Sul para a busca de soluções para os problemas na região é um bom exemplo de como é possível os Estados unirem esforços para encontrarem as vias apropriadas para se chegar à estabilidade. A instabilidade no Congo Democrático é uma questão que tem mobilizado as diplomacias dos países da região e não só, e acredita-se que a experiência de Angola e da África do Sul poderão contribuir grandemente para se pôr um fim definitivo ao conflito naquele extenso país com mais de sessenta milhões de habitantes.

O que se deseja é que o referido mecanismo seja mais um factor que acelere o processo de estabilização da RDC, um país que, pelas suas potencialidades, pode abrir, em parceria com outros Estados, caminhos seguros para o estabelecimento de estratégias viradas para a concretização de ambiciosos projectos económicos. Angola e a África do Sul podem desempenhar um papel activo na pacificação de uma região que possui recursos para fazer dela uma das mais prósperas do mundo. Como afirmou a ministra das Relações Exteriores e da Cooperação da África do Sul, Maite Mashabane, “temos de trabalhar para que os nossos povos se concentrem nos dividendos da paz, segurança e desenvolvimento, porque o nosso desenvolvimento resume-se no povo”. Os problemas de África são de tal forma complexos que é necessário que os Estados trabalhem em conjunto para se conseguir o que é desejo de todos: a paz e a segurança, que são indispensáveis para que o continente possa estar somente focado no desenvolvimento. Os conflitos armados destroem infra-estruturas, causam pobreza e geram crises humanitárias, um quadro que é preciso ultrapassar. Que as diplomacias africanas tenham a audácia necessária para traçar fórmulas que rompam com o ciclo de violência. Que o mecanismo tripartido criado por Angola, pelo Congo Democrático e pela África do Sul venha a produzir resultados que se traduzam na consolidação da paz na RDC e no reforço das relações económicas e políticas entre os três Estados, no âmbito de uma cooperação estratégica e no interesse de todos.


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