sábado, 27 de setembro de 2014

Brasil/O NEOLIBERALISMO TARDIO DE MARINA

20 setembro 2014, Democracia & Politica http://democraciapolitica.blogspot.com (Brasil)

Por Emir Sader, cientista político 

NEOLIBERALISMO NO BRASIL

"Os dois primeiros capítulos do neoliberalismo no Brasil se deram no auge desse modelo em escala mundial. O projeto da Marina seria de um neoliberalismo tardio.

O projeto neoliberal nunca foi tão claro como com a Marina.” (Dilma)

REPÚBLICA DE BANQUEIROS

Capitulo I: Fernando Collor de Mello
O neoliberalismo chegou no Brasil no projeto do Collor. Seus carros-chefes midiáticos foram:

--- os “marajás”, como forma de desqualificar aos servidores públicos e ao Estado em geral, estendendo a eles a situação de alguns privilegiados, para atacar o Estado e promover
a centralidade do mercado;

--- as “carroças”, como forma de promover a abertura do mercado nacional, desqualificando a produção brasileira e exaltando a globalização neoliberal.

A economia brasileira entrou numa profunda crise recessiva, como resultado de uma política aventureira, que confiscou as poupanças dos brasileiros. Foi o começo do escancaramento do mercado interno e a quebra das indústrias brasileiras diante da avalanche de ingresso de capitais estrangeiros. O Estado começou a ser desarticulado, pela adoção de políticas de privilégio do mercado.

Mas a queda de Fernando Collor se deu pelas denúncias de corrupção, como parte do saque do Estado. Deixou apenas começado o projeto neoliberal no Brasil.

Capítulo II: Fernando Henrique Cardoso/PSDB
FHC retomou o projeto interrompido do Fernando Collor. O Plano Real foi a forma concreta de privilegiar o ajuste fiscal, tomando como objetivo central do seu governo a estabilidade monetária, o combate à inflação.

Nessa sua segunda versão, "a estabilidade monetária promoveria distribuição de renda e retomaria o crescimento econômico, pela atração de capitais externos". O controle da inflação se transformou em dívida pública, que foi multiplicada por 10, enquanto a estabilidade monetária não se traduziu em distribuição de renda mas, ao contrário. A centralidade do mercado, a abertura ao mercado internacional, o desmonte do Estado, a precarização das relações de trabalho, acentuaram a desigualdade e a exclusão social.

O governo FHC/PSDB foi derrotado pelo seu fracasso até mesmo em controlar a inflação, deixando uma herança maldita para o governo Lula, incluindo uma profunda e prolongada recessão. Os candidatos do seu partido foram sucessivamente derrotados, como expressão do fracasso do governo neoliberal de FHC/PSDB.

Capitulo III: Marina Silva
Marina ocupa o lugar do tucano Aécio, que já havia demonstrado que pretendia assumir o projeto interrompido de FHC, incorporando a equipe econômica daquele governo. Sua iminente derrota e um acidente aéreo –
 de contornos obscuros – levou a que Marina Silva assumisse esse projeto.

Seu objetivo expressamente mencionado seria desalojar o PT do governo, mediante uma “nova política”, que na verdade se traduz na desqualificação do Estado e da política, assim como da polarização entre esquerda e direita.

O enunciado do seu programa contém postulados clássicos do neoliberalismo:
 independência do Banco Central, mudança da política de integração regional pela de livre comércio – expressa na Aliança para o Pacífico -, com a particularidade de rebaixamento do perfil do Pré-sal, como forma de abertura aos capitais estrangeiros na área petrolífera.

Esse projeto trata de não incorrer no erro de Aécio Neves, procurando revestir o projeto no envoltório de uma “nova política”, mas os traços neoliberais ficam perfeitamente à vista. Se faltasse algo, a equipe central da campanha é composta por uma banqueira e dois ideólogos típicos do neoliberalismo.

Os dois primeiros capítulos do neoliberalismo no Brasil se deram no auge desse modelo em escala mundial e latino-americano. O projeto da Marina seria de um neoliberalismo tardio, tendo fracassado no Brasil, na América Latina e no mundo."


Fonte:
 escrito por Emir Sader, cientista político    (
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/154017/Neoliberalismo-no-Brasil-Capítulo-III-Marina.htm).


NOTAS

PT: Partido dos Trabalhadores

PSDB: Partido da Social Democracia Brasileira, fundado em 1988. Esta organização direitista está muito ligada aos interesses dos Estados Unidos.

Tucano: Ave típica da América Latina que figura no logotipo do PSDB e dá nome aos seus membros.

FHC: Fernando Henrique Cardoso teve a sua eleição financiada pela CIA. Durante os seus mandatos – de  1995 a 1998 e de 1999 a 2002 --, aplicou uma forte política de privatização de empresas a favor do capital estrangeiro, em particular o norte-americano. Um dos vários escândalos verificados na sua gestão foi a venda, para uma empresa dos Estados Unidos, de um satélite que tambem era utilizado para fins militares. O seu governo depois o alugou na mesma empresa gringa, que assim passou a controlar o fluxo de informação do Brasil, inclusive as relacionadas com a segurança nacional.

Privatizações
Apoiado por políticos direitistas, Fernando Henrique promoveu várias emendas à Constituição para facilitar a entrada de empresas estrangeiras no Brasil e implantar o seu programa de privatizações.
 
Resumo das privatizações feitas pelo seu governo
1.      Acabou com o monopólio estatal do petróleo no Brasil. Em consequência de uma grande mobilização popular, este monopólio tinha sido estabelecido em 1953, pelo Congresso Nacional, com a aprovação da Lei Nº 2004, que tambem criou a Petrobrás.
2.      Privatizou a Rede Ferroviária Federal, o que jogou no desemprego milhares de funcionários e trabalhadores, provocando ainda a extinção do transporte de passageiros. 
3.      Privatizou a maioria dos bancos estaduais, as telecomunicações – incluindo satélite de também uso militar -- e a companhia Vale do Rio Doce, hoje com valor de mercado calculado em 127 bilhões de dólares. Esta privatização foi denunciada pelo senador Pedro Simon como uma "doação da empresa pública a um grupo privado".
4.      Terceirizou serviços e empregos públicos.
5.      Promoveu a privatização da educação superior com a abertura linhas de crédito para expandir o investimento privado neste sector.

Sobre a Era das Privatizações, o repórter Amaury Ribeiro Jr. Afirman, no livro A Privataria Tucana, publicado em 2011, que foi uma "verdadeira pirataria praticada com o dinheiro público em benefício de fortunas privadas, por meio das chamadas 'offshores', empresas de fachada do Caribe…". Este programa antinacional de Fernando Henrique Cardoso foi executado por José Serra, na altura seu ministro do Planejamento.

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