quarta-feira, 16 de abril de 2014

Angola/EDUCAÇÃO É ARMA CONTRA A MISÉRIA

16 de Abril, 2014, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao/ (Angola)

Yara Simão|

A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que “toda a pessoa tem direito à educação”. Mas apesar dos esforços para assegurar o direito à educação para todos, milhões de pessoas nos países industrializados ou em desenvolvimento vivem no analfabetismo.

As mulheres estão em maioria nesse quadro de pobreza. Oufa Hajji, presidente da Internacional Socialista de Mulheres (ISM), esteve em Luanda a presidir à reunião regional da organização. Em entrevista exclusiva aoJornal de Angola, Oufa Hajji afirmou que “a educação e a formação técnica de mulheres e meninas na família são os requisitos para acabar com a pobreza. Temos de dar mais atenção à educação das mulheres em África no mundo, só assim as coisas vão mudar de rota e todos saem a ganhar”. A presidente da Internacional Socialista de Mulheres pede aos Governos para darem mais oportunidades às mulheres.

Jornal de Angola - Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio foram atingidos no que diz respeito à mulher?

Oufa Hajji -
 Estes objectivos conseguiram mobilizar a comunidade internacional para construir um mundo melhor. A concretização dos resultados tem sido lento, desigual e desequilibrado, especialmente no que diz respeito à situação das mulheres e meninas em todo o mundo. Os Governos devem
desempenhar um papel mais importante na igualdade de género.

JA - As mulheres participam nos programas que visam atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio?

OH -
 As mulheres não participam na elaboração dos programas dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. E a desigualdade é um dos motivos, por isso é urgente maior aproximação entre homens e mulheres. É essencial das às mulheres oportunidades para que façam parte do programa da solução dos problemas mundiais em cada país onde vivem.

JA - Sente que as mulheres africanas ainda têm muito espaço para conquistar?

OH - 
As mulheres não estão integradas a cem por cento, também porque muitas não têm determinação. Precisamos de lutar muito para o desenvolvimento dos partidos políticos. Essa luta permite que as mulheres tenham mais força nas tomadas de decisões. Temos de apostar na educação e formação, que são a chave para que a mulher tenha poder de decisão.

JA - Qual é a sua opinião sobre a educação das mulheres em África?

OH -
 Normalmente, quando se faz o diagnóstico da educação, o analfabetismo continua sempre em um número considerável, sendo as mulheres as mais afectadas. As mulheres ainda não estão bem preparadas para os novos desafios tecnológicos porque desde cedo deixaram de estudar para se dedicarem ao lar. Por essa razão é que a formação e educação devem ser a prioridade. Também devemos a­postar na formação profissional.

JA - É necessário investir mais na educação das mulheres?

OH -
 A qualidade da educação e formação profissional das mulheres é a base da construção da sociedade. A falta de progresso social tem a ver com a redução da igualdade de género. Muitas mulheres apenas frequentam a escola primária e assim é quase impossível alcançar a igualdade de género, o respeito pelos direitos humanos e uma justa repartição dos benefícios sociais e económicos.

JA - A educação é a chave para acabar com a pobreza?

OH -
 Sim, a educação e a formação das mulheres na família e na escola são os requisitos para acabar com a pobreza. Vamos dar mais atenção à educação das mulheres em África no mundo, só assim as coisas vão mudar de rota e todos saem a ganhar.

JA - Que estratégias recomenda para a erradicação da pobreza no mundo?

OH -
 É necessário inscrever a igualdade de género e dos direitos da mulher no seio da agenda dos novos desafios, porque as mulheres estão a responder às falhas, hoje constatadas, e têm soluções para o sucesso de amanhã. É preciso uma aproximação sensível do género, baseada nos direitos humanos, na eliminação da violência, um flagelo esquecido pelos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, educar e formar gratuitamente e erradicar a pobreza.

JA - Para erradicar a pobreza a união faz a força?

OH -
 Não podemos erradicar a pobreza sem uma abordagem participativa que deve começar pela vida na aldeia, sem acesso à terra, sem financiamentos, sem acesso aos recursos e sem o direito ao trabalho decente. A economia verde é a solução para a erradicação da pobreza, mas tem de envolver as mulheres, principalmente porque elas têm um compromisso com a água, com a terra e com a preservação dos recursos para o bem-estar da sua família.

JA - Depois da reunião de Luanda a que conclusão chegou a Internacional Socialista de Mulheres sobre as metas atingir depois da agende de 2015?

OH -
 A Agenda após 2015 deve integrar o género em todos os objectivos que sejam interdependentes da situação das mulheres e das meninas e estabelecer um quadro para a implantação e avaliação de uma base de dados do género, envolvendo a sociedade civil. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio têm sofrido com a escassez de dados. Por isso, é essencial desenvolver mecanismos claros e novos indicadores, incluindo de género, violência, idade ou emprego não remunerado.

JA – A violência doméstica continua a ser um problema?

OH -
 A violência doméstica continua a afectar todas as regiões do mundo e para as mulheres ela é um obstáculo ao desenvolvimento. Por esse motivo é que durante a reunião regional da Internacional Socialista das Mulheres lançámos uma campanha para eliminar a violência contra a mulher e as jovens. Esta campanha vai ser desenvolvida de Abril a 25 de Novembro, data em que vai ser celebrado o dia de cessar a violência. O programa vai ser executado em todos os países membros da Internacional Socialista.

JA - As tradições em África ainda afectam muito a vida das mulheres?

OH -
 Nesta reunião a violência doméstica foi uma das prioridades nas discussões. Para que a tradição não tenha espaço, precisamos de mudar a mentalidade das pessoas, o que é muito difícil. A Internacional Socialista das Mulheres tudo vai fazer para trabalhar com as organizações não governamentais e a sociedade civil, a fim de mudar a mentalidade das pessoas. Neste momento as organizações não governamentais ainda estão em conjuntura com as comunidades que praticam essas tradições.

JA - Qual é o compromisso com as mulheres no mundo, depois da reunião de Luanda?

OH -
 A Internacional Socialista é a favor dos direitos das mulheres, da igualdade de genro e do fim da violência sob todas as formas. E a reunião de Luanda reagrupou as potencialidades femininas dum continente em plena expansão, África, que exprime a nossa vontade clara e aberta, em partilhar a solidariedade com as mulheres na luta por um futuro melhor.

JA - Como avalia a participação de Angola nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio?

OH -
 Estamos a acompanhar o esforço de Angola no combate à erradicação da fome, da pobreza e da violência doméstica. Acompanhamos o crescimento económico, político, social cultural que resulta em melhorias para a população. Não podemos esquecer que tudo isso é possível porque o partido MPLA conta com o apoio da Organização das Mulheres Angolanas, uma organização dinâmica que ocupa uma das vice-presidências da Internacional Socialista das Mulheres.

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