segunda-feira, 9 de setembro de 2013

NO MÉDIO ORIENTE, ERGUEM-SE VOZES CRISTÃS CONTRA A INTERVENÇÃO NA SÍRIA



8 setembro 2013, ODiário.info http://www.odiario.info (Portugal)

David Métreau

A ameaça de uma escalada militar na agressão imperialista contra a Síria defronta-se com uma crescente oposição e repúdio por parte da opinião pública mundial e dos mais diversos sectores e instituições. Poderá dizer-se que, de forma muito mais clara do que em ocasiões recentes, a manipulação da máquina mediática global do imperialismo não só não surte efeito como suscita um efeito contrário.

A perspectiva de uma possível intervenção militar dos Estados Unidos, Reino Unido e França na Síria, com ou sem um mandato da ONU, continua a dar que falar.
Representantes das igrejas cristãs do Médio Oriente expressam a sua oposição a este ataque estrangeiro planeado contra o regime de Assad.

Monsenhor Antoine Audo,
Bispo caldeu de Alepo

«Se houvesse uma intervenção militar, isso significaria o risco de uma guerra mundial. (…) O conflito só pode ser resolvido por um verdadeiro diálogo entre as diferentes partes. Que a intervenção do Papa seja o primeiro passo para prevenir o confronto, e que a população seja livre de se deslocar, viajar, comunicar, trabalhar… O país inteiro está em guerra! (…) Os sírios esperam por uma força internacional que ajude a estabelecer o diálogo e não a guerra.»

Monsenhor Louis Raphaël I Sako
Patriarca de Babilónia dos Caldeus em Bagdad

«A intervenção militar contra a Síria seria um infortúnio. (…) Seria o mesmo que provocar uma erupção num vulcão. A explosão atingiria o Iraque, o Líbano, a Palestina, e talvez alguém pretenda isso mesmo! (…) O Ocidente justificou a intervenção contra Saddam Hussein acusando-o de possuir armas de destruição em massa. Mas estas armas nunca foram encontradas! (…) A oposição a Assad está dividida, os vários grupos combatem-se entre si. As milícias da jihad multiplicam-se… Qual seria o destino deste país, depois de uma tal intervenção?»

Padre Jacques Mourad, responsável pela comunidade de Deir Mar Musa, na Síria
«Estamos numa fase de sofrimento extremo. Esperamos que os países ocidentais tomem uma posição justa face a esta terrível crise na Síria. A posição correcta significa rejeitar todas as formas de violência, silenciar as armas, não apontar uns contra outros, defender e proteger os direitos humanos.»

Irmã Houda Fadoul, responsável pela comunidade das mulheres de Deir Mar Musa
«Nós não podemos aceitar ou apreciar uma intervenção armada por parte de potências estrangeiras. Continuamos a nossa missão que é oferecer a Deus um culto espiritual, sobretudo para educar os jovens no diálogo e na paz. Acreditamos que hoje, mesmo no quadro deste conflito impiedoso, a oração ainda é um meio poderoso para resistir ao mal e o único instrumento que alimenta a esperança.»

Gregório III Laham, patriarca greco-católico melquita de Antioquia
«Este ataque planeado pelos EUA é um acto criminoso que só vai causar mais vítimas, além dos milhares de vidas que foram perdidas nos dois anos de guerra. Isto irá destruir a confiança do mundo árabe para com o Ocidente. A voz dos cristãos é a do Santo Padre. Neste momento temos de ser pragmáticos. A Síria precisa de estabilidade e um ataque armado contra o governo não tem nenhum sentido.»

Cardeal Leonardo Sandri, perfeito da Congregação para as Igrejas Orientais
«Que a razão superior da paz e da vida para o Oriente Médio prevaleça sobre qualquer outro interesse ou ressentimento. Que a justiça, a reconciliação e o respeito solidário dos direitos pessoais e sociais, e também religiosos, de todos quantos fazem parte da população do Médio Oriente, sejam colocados antes de qualquer outra razão, para a comunidade internacional. (…) Nestes tempos repletos de angústia, intensificam-se as orações pela situação na Síria, uma situação que se agravou no contexto já de si delicado do Médio Oriente, com feridas ainda abertas, no Egipto, no Iraque e outras áreas (…). Que a violência acabe : que Deus todo-poderoso possa iluminar a consciência dos responsáveis console todas as dores na nossa caridade.»

D. Maroun Lahham, vigário do Patriarcado Latino de Jerusalém para a Jordânia
«É triste, desde logo, para a Síria, não queríamos que o cenário do Iraque se repetisse. Também é triste para a Jordânia, já temos quase um milhão de sírios aqui, se houver guerra, haverá mais centenas de milhares. Especialmente porque a Jordânia é um país pequeno e será afectada pelo que se passa na Síria. Estou muito pessimista e espero o pior. Não podemos prever a reacção da Síria, nem a do Hezbollah, nem do Irão ou de Israel. (…) Rezem pela paz na Terra Santa e para que ela possa passar desses momentos de calvários a alguns vislumbres de ressurreição.»

Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém
«Os nossos amigos no Ocidente e nos EUA não foram atacados pela Síria . Com que legitimidade se atrevem a atacar um país? Quem os nomeou como polícias da democracia no Médio Oriente? (…) Quem já pensou sobre as consequências de tal guerra para a Síria e países vizinhos? Há necessidade de aumentar o número de mortos em mais de cem mil? É preciso ouvir todas aquelas almas que vivem na Síria e choram a sua dor que dura há dois anos e meio. Alguém já pensou nas mães, nas crianças, nas pessoas inocentes? E os países que atacariam a Síria já pensaram que os seus cidadãos em todo o mundo, que as suas embaixadas e consulados podem ser alvo de ataques e atentados em retaliação? (…) Haveria retaliações particularmente fortes que poderiam envolver toda a região.»

Hilarion, metropolita de Volokolamsk, Presidente do Departamento de Relações Externas da Igreja Ortodoxa Russa
«Estou profundamente preocupado com os planos de intervenção militar na Síria. Mais uma vez, como foi o caso com o Iraque, os EUA agem como carrascos internacionais, de forma absolutamente unilateral, sem a aprovação da ONU, querem decidir o destino de uma nação com milhões de pessoas. Mais uma vez, milhares de vidas serão sacrificadas no altar de uma democracia imaginária. E ninguém se preocupa com a situação dos cristãos, que poderão tornar-se reféns da situação e as principais vítimas de forças extremistas radicais, que com a ajuda dos Estados Unidos, chegarão ao poder. Acredito que a comunidade internacional deve fazer todo o possível para impedir que os acontecimentos tenham um tal desenvolvimento.»

Tradução de André Rodrigues

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