quarta-feira, 12 de junho de 2013

Pátria Grande, América Latina/OFENSIVA IMPERIALISTA EM GRANDE ESCALA



Resistir.info http://www.resistir.info (Portugal)

– NÃO É SÓ A VENEZUELA QUE ESTÁ NA MIRA, É O CONTINENTE

por Carlos Aznárez*

O ambiente latino-americano está rarefeito. Há sinais muito claros de que o Império decidiu impulsionar uma contra-ofensiva de grande porte. Tanto é que o próprio secretário de Estado estado-unidense John Kerry voltou a desenterrar um conceito que nos últimos anos parecia esquecido. Por ocasião do seu discurso perante o Comité de Assuntos Externos da Câmara de Representantes dos EUA afirmou com muita tranquilidade: "A América Latina é o nosso pátio traseiro (...) temos que nos aproximar de maneira vigorosa".
Disso se trata, precisamente o que vem: do vigor com que se estão "a aproximar", tentando aproveitar de algo que talvez eles mesmos tenham provocado (tudo está para ver e investigar), como a morte do Comandante Hugo Chávez.

A Venezuela continua a ser o prato especial do seu apetite voraz, mas enquanto isso vão gerando acontecimentos nos arredores que não podem nem devem passar desapercebidos.

Aí está por exemplo a reconstituição de uma coligação que mira por outra vez na superfície uma espécie daquela ALCA derrotada em Mar del Plata pela dignidade latino-americana e caribenha no ano de 2005. Agora chamam-na Aliança do Pacífico e aos seus sócios fundadores (México, Chile, Colômbia e Peru) somar-se-á em breve a Costa Rica, enquanto fazem fila, ansiosos por entrar no barco uma longa dezena de países dentre os quais figuram alguns que até ontem diziam estar do lado correcto da rua, como o Uruguai e El Salvador. Estes últimos, entretanto, já haviam subscrito acordos económicos e militares bilaterais com Washington.

A Aliança do Pacífico, sem dúvida, será o porta-aviões a partir do qual se tentará atacar duramente a ALBA , assim como a UNASUL e a CELAC .

De facto, um dos seus filhos pródigos, o presidente chileno Sebastián Piñera, recentemente mimado até fartar pelo seu protector Obama, acaba de desembarcar em El Salvador, para por em prática um acordo "estratégico" bilateral que será usado como modelo para operações vindouras.

Por outro lado, está o avanço realizado pelo sionismo para institucionalizar o que já era uma prática constante. A embaixadora israelense na Argentina, Dorit Shavit, acaba de dar um passo decisivo em assuntos de ingerência em temas do continente ao firmar com o presidente direitista paraguaio Horacio Cartes um convénio de cooperação em assuntos de segurança, educação e gestão da água. Isto significa que a Mossad israelense institucionaliza desta maneira algo que já vinha realizando desde há tempos: assessorar as forças policiais e militares paraguaias "na sua luta contra a subversão". Para isso, em princípios do ano, peritos em segurança provenientes da Mossad, que trabalham para o presidente eleito, Cartes, já realizaram um percurso pelos departamentos de San Pedro, Concepción e Amambay.

O objectivo dos especialistas foi "reconhecer e analisar" as zonas consideradas como as mais conflituosas do país em questões de segurança e onde operam as guerrilhas do Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP).

A tudo isto há que somar a recente disposição expressa pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos de aproximar o seu país à NATO, um pormenor que sem dúvida surge da estrita recomendação formulada pelo vice-presidente estado-unidense Joe Biden na sua visita a Bogotá para "estreitar relações com um aliado fundamental da nossa política externa", segundo esclareceu.

Santos não é um recém chegado à política e portanto não ignorava o efeito que o seu desejo de pertencer à família NATO ia gerar no continente. No imediato, ajudou a por entre parênteses as conversações em busca da paz, que prossegue em Havana com as FARC. Logicamente, ninguém em sã consciência pode sentir-se seguro nem imaginar cenas pacificadoras quando o maior exército do continente (e o mais agressivo) não só continua a receber milhões de dólares para aumentar seu equipamento como além disso faz coincidir esta iniciativa com querer aderir à organização internacional que mais pratica o terrorismo de estado no mundo.

Venezuela assediada por dentro e por fora
Neste quadro tão complexo e perigoso que apresenta a realidade continental, o processo revolucionário bolivariano continua a lutar por avançar, cumprindo com as políticas delineadas pelo Comandante Chávez e agora defendidas com toda dignidade e valentia por Nicolás Maduro.

Contudo, não é mistério para ninguém que a luta contra aqueles que hostilizam a Revolução internamente se torna cada vez mais cruenta. Trata-se de um inimigo que, como exprimiu sua referência eleitoral, Humberto Capriles, está disposto a aplicar todas as fórmulas, inclusive as mais violentas (aí estão os 14 chavistas mortos dos últimos meses) para exprimir o seu não reconhecimento dos resultados eleitorais que consagraram a vitória bolivariana. Capriles, que em breve será recebido pelo papa Francisco (nada é casual nos tempos que vivemos) é o principal responsável pela criminosa ofensiva interna que não hesita em assassinar os seus próprios compatriotas.

A esta oposição de traços tipicamente fascistas não lhe chega a sabotagem eléctrica, ou as manobras de desabastecimento, ambas já controladas pela decisão do governo. Na sua ânsia de imaginar um cenário de maior conflituosidade, chegaram a apelar aos seus cúmplices internacionais a adquirir nos EUA, tal como denunciou o ex-vice-presidente José Vicente Rangel, 18 aviões de guerra que foram instalados numa base norte-americana na Colômbia. Este anúncio coincide com um novo apresamento [nos departamentos de] Táchira e Portuguesa de núcleos paramilitares com fins belicosos que haviam entrado na Venezuela vindos da Colômbia.

Pelo seu lado, os apaniguados de Capriles continuam a visitar "amigos" e "aliados" têm em países onde geralmente governa a direita, procurando construir, com base em mentiras e exageros, a ideia de que o actual governo venezuelano é "ilegítimo" e perdeu apoio.

O plano conspirativo choca, entretanto, com algo que a direita não pode modificar. Nicolás Maduro, como "filho de Chávez", tal como o reconhece seu povo, não perdeu nem um instante e, desde que assumiu o cargo, está a batalhar em todas as frentes. Governando de maneira directa com aqueles que nele votaram, mas tentando por sua vez estender sua influência sobre aqueles que não o fizeram. O processo de fortalecer as Comunas, estender e fortalecer as Missões, intensificar a formação e a instalação de milícias populares e na ocasião devida avançar decididamente nas metas fixadas no Programa de la Patria. Quanto à política externa (reforço da ALBA, criação do Banco do Sul, maior cuidado das relações na UNASUL), esta neutraliza por agora qualquer tentativa de desestabilização interna. Mais ainda se se leva em conta que os altos comandos militares estão firmemente alinhados com o seu novo comandante em chefe.

Por isso, o maior dos perigos continua a estar nos arredores. Por um lado, nas incursões do Império (mais bases militares e "humanitárias", mais ajuda económica a países subordinados e cooptação de outros que se encontram indecisos) e, por outro lado, está a constante agressividade desse vizinho que até ontem exercia o cargo de ministro da Defesa de Álvaro Uribe e comandava as operações de extermínio contra guerrilheiros e camponeses colombianos. O mesmo homem que deu a ordem de invadir o Equador e bombardear impunemente o acampamento de Raúl Reyes, justamente quando estavam a avançar possibilidade de encontros como os que agora avançam em Havana. Esse mesmo personagem que agora, da sua omnipotência, quer uma mais uma mostra de "liderança" dentro da direita continental, aderindo àqueles que arrasaram Belgrado, o Iraque e a Líbia com as suas bombas de urânio empobrecido e agora brigam por entrar na Síria. Santos é amigo de Joe Biden e protector de Pedro Carmona, o frustrado golpista venezuelano.

*Editor do Resumen Latinoamericano

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org/...

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