sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Portugal/“OS NOSSOS GOVERNANTES VÃO ALÉM DOS SACRIFÍCIOS IMPOSTOS PELA TROIKA" -- D. Januário Torgal


D. Januário Torgal acusou o governo de tratar os trabalhadores por conta de outrem como se fossem “os assassinos do país", defendendo que essa ideia "é uma calúnia e um aproveitamento, porque na crise revelam-se oportunidades para explorar os explorados". O Bispo das Forças Armadas defendeu a renegociação da dívida.

2 fevereiro 2012/Esquerda.net http://www.esquerda.net (Portugal)


Foto de Paulo Novais, Lusa.

"As medidas da troika são duras mas não me deixam surpreso, mas depois descubro que os nossos governantes vão além dos sacrifícios impostos pela troika e fico atónito", sublinhou D. Januário Torgal em entrevista ao Dinheiro Vivo.

"Não acredito que quando começarem a morrer pessoas à fome, quando começar tudo numa barafunda, se continue a achar que vale a pena puxar a manta", reforçou o Bispo das Forças Armadas, defendendo que se deve proceder à renegociação da dívida.

D. Januário Torgal acusou o governo de uma “grande insensibilidade social”, de privar o povo “dos recursos que tem" ao implementar políticas que "exageram as medidas da troika" e de não tomar medidas para conter a escalada da taxa de desemprego, que já ascende a 13,6%.

O Bispo das Forças Armadas criticou também medidas concretas, como o fim dos feriados, frisando que  "não são os trabalhadores por conta de outrem os assassinos do país", ideia que é “uma calúnia e um aproveitamento, porque na crise revelam-se oportunidades para explorar os explorados".

D. Januário frisou ainda que não tem dúvidas de que, quando chegar a altura de eleições, "vai ser ver dinheiro a jorros" e de que,"nessa altura, todos vão ser bestiais".

Relacionado:

Portugal/D. Januário Torgal: “TENHO VERGONHA DO MEU PAÍS”
O bispo das Forças Armadas acusa o governo de falta de sensibilidade e de incompetência diante da multidão de pessoas que já foram desapossadas da sua dignidade e do respeito por elas próprias. E diz que não quer ser cúmplice.

17 setembro 2011//Esquerda.net http://www.esquerda.net (Portugal)

D. Januário Torgal: não devo dormir tranquilo perante toda esta multidão de pessoas que já foram desapossadas da sua dignidade. (Foto da Lusa) 

Numa entrevista ao jornalista Manuel Vilas Boas, da TSF, o bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, diz não querer ser cúmplice com “esta multidão de pessoas que já foram desapossadas da sua dignidade, do respeito por elas próprias”, elogia a esquerda e acusa o governo de falta de sensibilidade e de incompetência.

“Tenho vergonha porque numa casa onde os mais pequenos não se podem sentar à mesa e comer do mesmo pão, que é o pão dos direitos e da dignidade, quem estiver a presidir à mesa deve sentir-se cúmplice”, disse D. Januário. “E se nos dizemos Igreja, servidores do mundo, devo sentir-me cúmplice e não devo dormir tranquilo perante toda esta multidão de pessoas que já foram desapossadas da sua dignidade, do respeito por elas próprias e a quem as promessas vão no pior sentido”.

Januário recorda o passado e diz ter tido vergonha da Igreja quando esta se calou e se ajoelhou diante de Salazar. Lembra que homens da Igreja foram educados no medo e não na liberdade e no à vontade de dizer o que pensam.

E afirma que hoje em dia, uma pessoa que toca em aspectos sociais é alguém que é de esquerda. “Mas então honra seja feita à esquerda”, afirma, apontando que há muitos comunistas que são mais católicos que muitos católicos”. E questiona: “porque é que só em momentos eleitorais se vai para as feiras? Se vai para os banhos de multidão e se dá beijinhos em gente mais simples?”

Quanto ao actual governo, D. Januário nota falta de sensibilidade nuns casos e noutros perfeita incompetência. “A gente vai dizer para o governo se sentar e nos ouvir”. Não fomos educados na arte do diálogo”, diz, referindo-se também aos que fazem críticas à Igreja.

O bispo das Forças Armadas aponta a falta de cultura democrática que ainda existe, “As pessoas não estão habituadas a quem vem manifestar oposição”. E dá como exemplo a coluna dominical de domingo de Frei Bento Domingues no Público. “Para a mentalidade de muitas pessoas, ele não é nada meigo, diz uma palavra que tem uma originalidade única. Mas há pessoas que ficam incomodadas...”

D. Januário alerta que “há muita gente que gostaria do regresso de Salazar. Isso é uma tragédia”. Mas, na sua opinião, devemos tratar essas pessoas como o Salazar nunca ousou tratar quem diferia dele. “Tratar as outras pessoas de forma diferente que essas pessoas, nas suas fontes culturais, trataram as outras”, isto é, com democracia.

O bispo das Forças Armadas alerta que “há quem não defenda a ditadura, mas que defenda que uma ditadurazinha de algum tempo, que uns safanõezinhos faziam muito bem. Eu digo, os safanões, o prender, o bater só faz mal.”

O que o leva à crítica à guerra do Iraque. “Houve jornalistas que me chamaram 'fundamentalista do Iémene' quando eu disse que estava em total desacordo com a guerra do Iraque”, recorda. D. Januário defende a Primavera dos países árabes e nota que não houve tiques religiosos, o que houve foi tiques de cidadania.

“São islâmicos, e portanto o Islão é compatível com a liberdade e até com a democracia. Ao contrário do sr. Bush, que queria impor a democracia com as armas, pode-se chegar à democracia através da razão”.

Nenhum comentário: