quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Portugal/OTAN: O BRAÇO ARMADO DO IMPERIALISMO QUER AGIR EM TODO O PLANETA

22 novembro 2010/Vermelho EDITORIAL http://www.vermelho.org.br

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foi criada em 1949 como instrumento para impor, na Europa, os interesses geopolíticos dos EUA e garantir sua hegemonia, favorecendo ao mesmo tempo as classes dominantes europeias ameaçadas numa ordem social dilacerada que, em muitos lugares, beirava uma situação revolucionária, Mas, sobretudo, para ser um instrumento militar contra o socialismo e a União Soviética.

A reunião de cúpula dos 28 países da Otan, realizada neste fim de semana em Lisboa, confirmou esse papel reacionário, opressivo e agressivo. Com a crise do socialismo na Europa, entre as décadas de 1980 e 1990, e o fim da União Soviética, em 1991, imaginava-se que essa organização belicista tivesse esgotado seu papel, podendo deixar de existir. Não foi o que ocorreu e, numa primeira alteração de seu “conceito estratégico” num mundo que se pretendia unipolar, hegemonizado pelos EUA, a Otan confirmou novamente seu caráter de instrumento militar do imperialismo e foi mantida.

A cúpula de Lisboa confirmou, mais uma vez, esse caráter com o chamado «novo conceito estratégico», cujo objetivo é alargar o domínio territorial da Otan para todo o globo, ampliar o âmbito de suas missões agressivas contra os povos, incluindo energia, meio ambiente, migrações e questões de segurança interna dos países, reafirmar-se como bloco militar nuclear, impulsionar o desenvolvimento do complexo industrial militar, exigir dos países membros o aumento dos orçamentos militares, incluir em sua agenda a possibilidade de ingerência direta e ocupação a pretexto de manter a ordem.

Isto é, o objetivo da reunião de Lisboa é aprofundar o papel da Otan como braço armado do imperialismo, agora com a possibilidade agir em todo o planeta, extrapolando seus limites originais e representando novas ameaças e perigos contra todos os povos.

Trata-se, como disse seu secretário-geral, o neoliberal dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, de "um novo começo" que inclui a construção de um sistema anti-míssil alegadamente contra a ameaça dos mísseis iranianos. Este é um dos pretextos para uma nova definição estratégica.

No período anterior, a Otan já havia demonstrado sua utilidade bélica como instrumento da agressão imperialista. Seus aviões bombardearam cidades e o território da antiga Iugoslávia; na guerra do Kossovo cometeu crimes contra a humanidade e a paz ao bombardear durante 78 dias o território sérvio, deixando mais de 3.500 mortos e ferindo mais de 10 mil com armas ultra letais, como bombas de fragmentação e de urânio empobrecido cujos efeitos persistem. Isso sem falar no envolvimento direto e central nas agressões contra o Iraque e o Afeganistão, o apoio à política genocida de Israel contra os palestinos, a intervenção militar no Cáucaso etc.

Na esteira dessas agressões contra os povos e contra a paz a Otan expandiu-se; em 1999 passou a incluir países do antigo bloco socialista, que no passado haviam sido o alvo de sua ação, como Polônia, República Tcheca e Hungria; mais tarde vieram Estônia, Letônia, Lituânia, Bulgária, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Albânia e Croácia. E poderá crescer ainda mais no território europeu com as esperadas adesões da Macedônia, Ucrânia e Geórgia. E, depois da reunião de Lisboa, prevê-se a expansão pela Ásia e Oceania, englobando países da região do Pacífico e do hemisfério sul como Austrália, Nova Zelândia e Japão. Foram feitas pressões, além disso, para incluir o Atlântico Sul como área de seu interesse estratégico, que esbarraram da recusa veemente do Brasil e demais nações do continente contra a verdadeira metástase militar agressiva que essa expansão representa.

O fortalecimento militar da Otan e sua expansão para áreas além da Europa e América do Norte significam uma ameaça contra os povos e contra a paz. Como bem identificou o dirigente cubano Fidel Castro, a Otan desenhada pelo tal “novo conceito estratégico” é a polícia do mundo – polícia do imperialismo, particularmente dos EUA, para manter uma ordem mundial cujo desmantelamento pode ser visto com a ascensão de novos protagonistas no cenário político mundial, como a China, o Brasil e a Índia.

A crise econômica mundial aprofunda a crise política e ameaça a manutenção de um mundo onde os europeus e os norte-americanos mandaram e desmandaram. O objetivo de fortalecer a Otan é justamente manter intocado este mundo, que os comunicados daquela organização e de seus parceiros chamam de “ordem”.


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Portugal/A XXII CIMEIRA DA NATO E A LUTA PELA PAZ

22 novembro 2010/ODiário.info http://www.odiario.info

Terminados dois dias de movimentadas chegadas e partidas de alguns líderes políticos mundiais, terminaram em Lisboa as «três em uma» cimeiras da NATO, UE-EUA e NATO-Rússia. Ban Ki-moon, Barack Obama, Dmitry Medvedev, Amid Karzai, etc. marcaram presença – mas não todos com todos, antes sim em encontros separados, e alguns não se encontraram de todo.

Quanto à cimeira da NATO, o sucesso já estava de antemão anunciado na página oficial da aliança, e a brochura sumarizando o supostamente novo «conceito estratégico» já pronto no próprio dia em que ela se realizou. Quer porque o conteúdo já fora fixado em NATO 2020, o relatório elaborado pelo «grupo de especialistas» (Maio 2010) mais conhecido por relatório Madeleine Albright, no entretanto digerido por assessores e ministros; quer porque no fundamental ele torna «oficial» a política expansionista da NATO e a ilimitada latitude da sua actuação, reflectindo a prática política daquela Secretária de Estado do governo Clinton na «intervenção humanitária», na «luta contra o terrorismo», e prosseguida de facto pela NATO na última década, agora alargada também à vigilância e guerra cibernéticas, às alterações climáticas, etc.; quer ainda porque simplesmente tal discussão decorre não entre iguais mas sim entre patrões e súbditos submissos.

Esse alargamento desconforme da esfera de acção que a NATO se arroga, parece diluir a sua agressividade bélica na esfera de assuntos de natureza civil – tal como incorpora estes na esfera da «defesa». De um modo ou de outro, trata-se da militarização dos negócios de estado e do seu governo.

A presença dos presidentes da Rússia e do Afeganistão serviu para formalizar duas «novidades» já antecipadas na comunicação social há meses - o reforço da «parceria estratégica» da NATO com a Rússia – para o avanço de um «escudo antimíssil» na Europa - e a «parceria» com o Afeganistão – para a retirada gradual das forças da NATO do Afeganistão a partir do próximo Verão.

Quanto a um acordo NATO-Rússia não tem que surpreender, posto que a Rússia se tornou há vinte anos num país económica e politicamente capitalista. Mas ao alargar-se essa cooperação imperialista, com os seus vários centros e multiplicadas contradições, perguntamos: quem está a enganar a quem? Certamente todos. E contra quem se procuram «proteger»? O Irão? A Coreia? A China? Esta última (a única potência com potencial bélico bastante) nunca foi nomeada.

Mas o objecto em questão, o escudo antimíssil, é um cenário muito preocupante (conhecida por «guerra das estrelas» na era Reagan), pois que o escudo antimíssil é iminentemente um dispositivo de «ataque em primeira mão» com armas nucleares (preemptive first strike). Estaremos a correr o risco de retornar à ameaça de holocausto nuclear - que nunca foi eliminado de todo. Cenário agravado pela longamente adiada efectivação dos tratados EUA-Rússia START que visam a redução dos colossais arsenais de ogivas nucleares e de lançadores que duas super-potências nucleares possuem.

Quanto ao dito acordo NATO-Afeganistão, ele significa o reconhecimento de uma estrondosa derrota militar da NATO com uma condição - Hamid Karzai manterá o seu lugar de presidente em troca da persistência de bases militares estrangeiras em solo afegão - enquanto o acordo durar. Recordemos o que está sucedendo no Iraque no mesmo respeito.

A última das três em uma, a cimeira EUA-UE, conclui-se sem resultados concretos, meros enunciados vagos de consultas e concertação face à crise económico-financeira mundial, que abala sobretudo a velha esfera Ocidental de que a NATO é o instrumento de guerra.

Não há razões para estarmos tranquilos, antes inquietos. O imperialismo senil como fera ferida é ainda mais ameaçador.

Por isso é de relevar a Campanha Paz Sim! NATO Não! que no dia 19 de Novembro realizou no Fórum Municipal de Almada um Encontro Internacional “NATO Inimiga da Paz e dos Povos – Dissolução!” em que também participaram duas dezenas de delegações de movimentos de Paz estrangeiros (Europa, Médio Oriente, Américas); e a grande Manifestação que dia 20 em Lisboa congregou 30 mil pessoas descendo a Avenida da Liberdade até aos Restauradores, onde a presidente do Conselho Mundial da Paz denunciou a NATO como fautora dos crimes que são as guerras que vem travando, e apelou à sua dissolução. Um elemento da comissão executiva da CGTP-IN apontou a libertação dos trabalhadores e a Paz como causas afins, e apelou à Greve-Geral convocada para 24 de Novembro.

Os órgãos de comunicação social mal deram cobertura à Manifestação de tal envergadura e com tal significado, optando por dar obsessiva atenção a pequenas escaramuças de anarquistas e esquerdistas que obviamente o imperialismo tem como aliados ou ao seu serviço.

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