sexta-feira, 18 de junho de 2010

Timor-Leste/11 de Fevereiro - ANGELITA PIRES BATEU O PÉ E VAI CONTINUAR A BATER

18 junho 2010/Timor Lorosae Nação http://www.timorlorosaenacao.blogspot.com

Por António Veríssimo

ELITE TIMORENSE NO PODER VAI SER AINDA MAIS DESMASCARADA?

Angelita Pires enfrentou corajosamente uma elite timorense com laivos de criminalidade latente que se começou a revelar a partir de finais de 2005 e veio engrossando em número e procedimentos que culminaram com o 11 de Fevereiro de 2008.

Foi nesse palco que Angelita Pires teve de se confrontar com certos farsantes detentores dos poderes político, policial e judicial, tendo conseguido vencê-los graças à sua coragem e a fortes apoios concedidos pela Austrália em defesa de uma sua cidadã. Também a ONU em nada saiu incólume da farsa que foi e continua a representar os acontecimentos de 11 de Fevereiro de 2008. Adiante.

Nesse dia, nessa manhã, uma bem urdida operação com vista à execução de Alfredo Reinado e, por evidências, a José Ramos Horta, foi posta em marcha. Pelos vistos não correu como fora planeada e o resultado disso foi logo denunciado na operação de atentado a Xanana Gusmão, que correu tão mal que logo nas primeiras horas várias incongruências e contradições começaram a desvendar o “mistério” para muitos observadores timorenses e internacionais. Ficou posta em causa a credibilidade do PM Xanana Gusmão ao pretender vitimar-se com uma falsa emboscada feita pelos homens que acompanhavam Gastão Salsinha em Balibar, como alegaram.

A partir daí o desaire foi flagrante. Tão flagrante que culminou com o Tribunal de Recurso timorense a dar tiros nos seus próprios pés e dos que participaram na farsa do julgamento aos acontecimentos de 11 de Fevereiro de 2008, ao reconhecer que Gastão Salsinha e os seus homens não causaram danos à viatura PM1, reduzindo-lhes a pena a que o Tribunal Distrital de Díli os havia condenado na farsa dirigida pelo juiz Basmeri. Uma completa rebaldaria até para o cidadão menos avisado, visto que se não foi Salsinha nem os homens que o acompanhavam que causaram danos na viatura PM1 no alegado atentado, se a viatura estava realmente baleada, e estava, se Xanana Gusmão e outros seus acompanhantes declararam que houve atentado e que até trocaram tiros com um homem abrigado num muro de coilão, homem esse que havia disparado contra a viatura PM1, se o TR assim não reconheceu (e bem), quem foi que afinal baleou a viatura PM1? E se não foram homens de Salsinha que a balearam que atentado existiu por parte deles? Porque ainda estão presos em Becora?

O TR o que diz por entre-linhas, isto para os cidadãos comuns mas não palermas, é que é constituído por cobardes e também diz que o atentado foi inventado. Se foi inventado decerto que se destinou e destina a encobrir uma acção no 11 de Fevereiro de 2008. E que acção poderia ser essa? O PR Ramos Horta já estava às portas da morte. Alfredo Reinado e Leopoldino Exposto já tinham sido executados… Quantos são dois mais dois?

Quer o grupo de Salsinha em Balibar, quer os homens que acompanharam Alfredo Reinado a casa do PR Ramos Horta simplesmente têm servido de camuflagem aos verdadeiros responsáveis pelo acontecido em 11 de Fevereiro de 2008, já aqui foi dito e redito. Esses indivíduos e Angelita Pires foram (são) os bodes expiatórios de acontecimentos bem planeados mas mal executados. Falta saber em tudo isto as responsabilidades de Ramos Horta. Porém, sendo ele o veículo de confiança de Alfredo Reinado, sabendo-se que confiava e obedeceria a Ramos Horta, não custa perceber que na madrugada e manhã de 11 de Fevereiro Reinado e seus homens caminharam para uma atroz cilada. Ramos Horta deve saber isso e bastaria tê-lo dito, se acaso a sua consciência estivesse tranquila desde o golpe de estado de 2006, em que usaram bastantes mas principalmente Alfredo Reinado. Parece que Ramos Horta não contava com o facto de também estar na lista das personalidades a abater…

Surpreendentemente acusou de imediato Angelita Pires, ainda com o efeito das anestesias a que o tiveram de sujeitar nas várias operações clínicas no hospital de Darwin. E até sabia de uma avultada quantia destinada a Angelita que ela receberia ou recebera num banco australiano… Um verdadeiro conto de carochinha contado por um presidente da república dos farsantes.

Angelita Pires diz em entrevista que transcrevemos que “bateu o pé”, foi lutadora, graças aos meios que lhe proporcionaram e aos profissionais de advocacia que a defenderam e fizeram dos argumentos da acusação uma rodilha mal cheirosa. O ónus do mau cheiro pertence em grande parte ao representante do Ministério Público naquele julgamento, Felismino Cardoso, que sem papas na língua, negou existirem fotografias da autopsia de Alfredo Reinado, quando afinal logo passado dois dias o TLN publicou fotografias do referido magistrado a posar junto ao cadáver de Alfredo Reinado no acto da autopsia, junto com os profissionais do mister e elementos da UNPOL – acto degradante por dar a perceber um certo ambiente de exposição e quase festa que viola os mais elementares princípios que devemos reservar aos mortos. Compreende-se, se Felismino Cardoso demonstrou ausência de respeito pelos vivos e os Direitos Humanos como poderá ter pelos mortos? Deus lhe perdoará… Talvez.

Segue-se a entrevista de Angelita Pires com as perguntas pertinentes de Beatriz Wagner da SBS, Austrália. Declarações bastante comedidas para quem foi e está a ser tão prejudicada por uma elite de sabujos timorenses que ascenderam ao poder quase total em Timor-Leste através de acções mais semelhantes a uma organização mafiosa. Só por isso é que o governo legítimo foi derrubado. Angelita Pires continua a bater o pé e por isso a elite no poder em Timor-Leste pode vir a ser ainda mais desmascarada, mas se não fosse ela outros seriam, e outros serão certamente, noutros areópagos da justiça.


BEATRIZ WAGNER (SBS) ENTREVISTA ANGELITA PIRES


SBS – 17 junho 2010 - Transcrição TLN

Beatriz Wagner – Aqui e agora no programa estamos em linha com Angelita Pires, ela está em Darwin, de onde fazemos esta entrevista por telefone. Bom dia, Angelita. Bem-vinda ao programa de língua portuguesa.

Angelita Pires – Obrigada, bom dia.

BW – A senhora resolveu entrar com um processo de difamação contra o presidente José Ramos Horta, o que é que a senhora quer com esse processo?

AP – Fui julgada no fórum mundial pelo presidente José Ramos Horta. Nem sequer me deram oportunidade de me defender no tribunal. Todos esses comentários influenciaram bastante a percepção não só do público mas também dos investigadores e do tribunal em si. Durante o curso da investigação fui muito maltratada, não só perdi um parceiro, companheiro da vida, mas também meu filho, estava de quase cinco meses, não tive acesso a tratamento médico, não me deixaram, perdi o meu trabalho, perdi os meus estudos – estava cursar em Direito – perdi a minha liberdade, perdi a minha vida toda. Imagina que eu sou uma cidadã australiana e timorense, falo três línguas, vim de uma família de elite e isto acontece comigo… imagina os outros, que não têm acesso aos recursos que eu tive, a sorte que eu tive de financiamento para uma boa defesa jurídica. Os demais timorenses, um milhão de timorenses, não têm a mesma sorte, não é?! Então eu tenho a obrigação de processar aqueles que me difamaram e aqueles que me fizeram mal. Não só sofri danos morais como outros danos.

BW – O que é que você quer?

AP – Primeiro quero, especialmente do governo timorense, do ministério público, da presidência, eu quero um pedido de desculpas, um pedido de desculpas mundial. Porque é que eu peço um pedido de desculpas mundial: Porque eu fui difamada em todas as partes do mundo onde o senhor presidente naquele momento punha os pés. Um pedido de desculpas a mim e à minha família, restaurar o meu bom-nome e depois indemnizarem-me pelos danos causados.

BW – E esse pedido de indemnização em que é que vai consistir?

AP – Estamos agora discutindo com os meus advogados e é difícil saber… Eu acho que será o tribunal a determinar porque eu sofri bastante, Beatriz. Eu nunca imaginava que aqueles que estão lá para nos defender, de violações de Direitos Humanos, que são aqueles que sempre nos defenderam, aqueles que a gente respeitava muito, foram aqueles próprios que violaram os meus próprios direitos.

BW – Angelita Pires, você está processando por difamação não só o presidente José Ramos Horta mas todos que a difamaram. Contra quem vai ser essa ação civil além do presidente José Ramos Horta?

AP – Eu vou processar também o governo timorense, o senhor procurador Felismino Cardoso… O Ministério Público, através desse representante, Felismino Cardoso, forjou uma história e resolveu processar-me. Não há dúvida nenhuma de que eu fui bode expiatório desse caso, não há dúvida nenhuma. Não há dúvida nenhuma de que por razão de meu forte vínculo com Alfredo Reinado e por ser mulher pensaram eu ser frágil até ao ponto de ser facilmente condenada. Eles erraram. Alguém tem de tomar as responsabilidades.

BW – Angelita Pires, quando é que você conheceu o presidente José Ramos Horta?

AP – Eu nunca conheci o presidente José Ramos Horta pessoalmente.

BW – Até hoje vocês nunca se encontraram?

AP – Nunca nos encontrámos pessoalmente, nunca.

BW – Na sua opinião porquê o presidente José Ramos Horta fez acusações tão fortes e diretas a você imediatamente após os eventos do 11 de Fevereiro de 2008?

AP – No inicio foi difícil compreender, mas depois comecei a entender o que ele podia fazer… Ele sabe bem quem está envolvido nos eventos de 11 de Fevereiro. Sabendo bem que essas pessoas estavam envolvidas, sabendo bem que os perpetradores estavam e estão atualmente livres. Porque investigando os verdadeiros perpetradores havia de trazer muitas dores de cabeça para o senhor presidente. Ele simplesmente escolheu a mais rápida forma, a mais fraca pessoa, para lavar as mãos e para se justificar ao povo. A justiça não foi feita. Estou muito satisfeita por ser uma pessoa livre mas a minha liberdade é o meu direito porque eu nunca cometi nenhum crime. Há muitas perguntas que até hoje não têm resposta… Têm resposta, só que o governo e o poder judicial se recusam.

BW – Angelita Pires, se a verdade vier à tona quais serão as consequências para a liderança política do país?

AP – O problema está em… A comunidade internacional não pode continuar cruzando os braços assistindo a Timor-Leste ser o que eu chamo on stop shop para todo o tipo de criminalidade. Porque agora o clima em Timor é de impunidade. Se os nossos líderes políticos querem reganhar, ganhar de volta, a confiança que perderam do povo timorense, e o respeito, eles vão ter de atuar com dignidade, eles vão ter que dizer a verdade e sofrer as consequências, porque a lei é para todos.

BW – Voltando ao caso de Alfredo Reinado, ele era acusado de assassinato, tinha processo contra ele. Ele mesmo admitiu que tinha sido usado na crise de 2006. Como é que fica essa questão dos princípios a que você se refere, por exemplo, no caso de Alfredo Reinado por ocasião da crise de 2006?

AP – Eu acho que Alfredo Reinado foi instrumento, foi utilizado por pessoas poderosas, políticos, para derrubar o governo legítimo, que era o governo FRETILIN. Acho que Alfredo se sentiu muito traído e estava muito desgostoso porque depois de fazer isso tudo foi obrigado a ser fugitivo. Alfredo estava preparado para ser condenado e a justiça não foi feita, os responsáveis ainda estão livres e estão sendo protegidos pelo próprio governo.

BW – Você já ouviu alguma reação do presidente José Ramos Horta a essas suas reparações?

AP – Ainda não ouvi mas acho que não lhe deve fazer surpresa porque ele sabe bem como se comportou. Apesar de ser Nobel da Paz para os Direitos Humanos não fez nada em relação aos meus Direitos Humanos. Sabia que eu era inocente e continuou. Tenho tanta certeza que me causou tanto stress, pôs tanta pressão em mim, que eu perdi o meu filho.

BW – Quantas pessoas tem arrolados no seu processo de difamação? Quantos nomes?

AP – Eu ainda não tenho a certeza mas ouvi dizer pelos meus advogados que são cerca de seis ou sete…

BW – Seis ou sete nomes… Quem são os nomes?

AP – Eu não posso dizer, infelizmente.

BW – Não pode dizer?

AP – Não.

BW – Mas se você pode dizer o nome do presidente, José Ramos Horta, que é o mais importante dos seis ou sete…

AP – Esse posso dizer porque é fácil de saber… O que ele fez é verídico, é fácil. Ele próprio sabe disso.

BW – E os outros nomes?

AP – Os outros nomes são entidades timorenses e uma ou duas entidades estrangeiras, jornalistas, sim…

BW – Quem são os jornalistas estrangeiros?

AP – São jornalistas portugueses, infelizmente.

BW – Por reportagens que fizeram?

AP – Sim. Por reportagens falsas e difamação.

BW – E quem são esses jornalistas?

AP – Eu não posso dizer.

BW – Os advogados disseram que você não poderia mencionar os nomes?

AP – Eles sugeriram que não é bom mencionar. Mas posso dizer que são portugueses, sim, e que me ofenderam muito. Foram jornalistas portugueses, sim.

BW – E na Austrália seria o caso contra o presidente José Ramos Horta, mas na Austrália. É muita coragem, não?

AP – Eu tenho de ser corajosa, Beatriz, porque eu sou obrigada a fazer isso. Não só pelo meu bom-nome, pelo bom-nome da minha família, por minha própria segurança. Eles puseram em causa a minha honra e a minha segurança pessoal, a minha própria vida. Sou obrigada a fazer isso.

BW – Os advogados têm ideia das possibilidades de que você consiga ganhar este caso?

AP – Eles dizem que sim. Acho que chegou o tempo de alguém ter coragem em Timor-Leste de dizer que não, que esta impunidade não pode continuar, que não podemos continuar a mentir uns aos outros e a mentir ao povo. Sou simplesmente uma mulher que bati o pé e disse que não.

BW – Angelita Pires, conversando connosco desde Darwin e que vai entrar com um processo de difamação contra o presidente José Ramos Horta e outras pessoas. Tem intenções de entrar com processos em Timor-Leste, na Austrália e em Portugal. Muito obrigada por conversar nesta longa, muito longa, entrevista que tivemos hoje.

AP – Muito obrigada. Com licença. (Fim)

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