quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

CELAC FORTALECE A INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

24 fevereiro 2010/Vermelho EDITORIAL http://www.vermelho.org.br

O balneário mexicano de Riviera Maya, em Cancun, foi cenário, ontem (dia 23) de mais um passo fundamental pela unidade da América Latina: os 33 chefes de Estado e de Governo lá reunidos aprovaram a criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) integrando todos os países da região. Ficam de fora apenas EUA e Canadá, indicando que os países do continente querem tomar seus destinos em suas próprias mãos, de maneira soberana e sem a ingerência do imperialismo estadunidense. Foi também mais uma manifestação da falência da Organização dos Estados Americanos (OEA) que, historicamente, é instrumento da política externa de Washington e cujo fracasso se deve fundamentalmente a esta subordinação aos poderosos da Casa Branca.

A nova organização soberana é herdeira do patrimônio político acumulado com as reuniões do Grupo do Rio (que ocorrem desde 1986) e da Cúpula da América Latina e do Caribe (CALC, que se reúne desde 2008) nasce para fortalecer a integração continental, objetivo explícito já nos primeiros parágrafos de sua certidão de nascimento, a Declaração de Cancun, aprovada na “Cúpula da Unidade” encerrada ontem e que registra a decisão de “aprofundar a integração política, econômica, social e cultural de nossa região e estabelecer compromissos efetivos de ação conjunta para a promoção do desenvolvimento sustentável da América Latina e do Caribe com base na unidade, democracia, respeito irrestrito aos direitos humanos, solidariedade, cooperação, complementariedade e coordenação política”.

Seu nascimento já indicou o caráter soberano que terá – os chefes de Estado lá reunidos condenaram a dominação britânica sobre as Ilhas Malvinas e apoiaram a exigência argentina de respeito à sua soberania nacional, contra empresas inglesas que, apoiadas pelo governo de Londres, iniciaram a prospecção de petróleo em águas territoriais do arquipélado. A OEA, por sua vez, ao omitir-se sobre esta questão, confirmou mais uma vez sua subordinação aos interesses externos à região.

A América Latina é hoje palco de uma disputa acirrada entre as nações do continente, que tomam as medidas em defesa de sua soberania nacional, e os EUA que, assistindo ao esgarçamento do secular domínio que exercia sobre a região, reforça sua presença militar (reativando a 4ª Frota e estabelecendo bases militares, concentradas na Colômbia).

Esta disputa envolve também parcela das elites latino-americanas que são aliadas tradicionais dos EUA. Um exemplo disso é a reação de setores conservadores da mídia e da intelectualidade brasileiras, que acusam a diplomacia brasileira de envolver-se com “objetivos etéreos” (como classifica os objetivos indicados pela Declaração de Cancun) e de apoiar a proliferação de organizações internacionais na América Latina, que seria “autodestrutiva”, como disse um cientista político tucano.

O que incomoda mesmo a estes críticos conservadores são os rumos soberanos que a política externa brasileira vem tomando, a projeção internacional alcançada por nosso país e o reconhecimento externo da liderança do presidente Lula. Ela ficou clara, por exemplo, na proposta de Hugo Chávez de que Lula esteja à frente da Celac. Ele é o “líder regional indiscutível” explicou o presidente da Venezuela, cuja proposta foi apoiada inclusive pelo presidente mexicano, Felipe Calderón.

A integração soberana do continente será construída a partir do respeito mútuo às particularidades e à independência de cada uma das nações latino-americanas. Este é o sentido da política externa brasileira e ele se contrapõe à política de violência e imposição que caracterizam a ação estadunidense na região e no mundo. O respeito aos direitos dos povos coloca em risco o domínio imperialista e também os interesses oligárquicos conservadores de seus aliados dentro de cada país. É por isso que estes setores, e seus porta-vozes na mídia e na intelectualidade, rotulam esta busca da soberania de “destrutiva” – é o mundo da dominação externa que está sendo destruído, abrindo caminho ao mundo da soberania, da democracia e do desenvolvimento.

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