terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Timor-Leste/BIOGRAFIA DO PRESIDENTE NICOLAU DOS REIS LOBATO




FRETILIN
COMEMORACAO DA MORTE EM COMBATE DO PRESIDENTE NICOLAU DOS REIS LOBATO NO COMITE CENTRAL DA FRETILIN AMANHA DIA 30.12.2009

Nicolau dos Reis Lobato nasceu no dia 24 de Maio de 1946 em Sasatan Oan, Aitara Hun, Soibada, Posto Administrativo de Laclúbar, Administração de Manatuto. Filho primogénito de Narciso Manuel Lobato, natural de Leorema, Posto Administrativo de Bazartete, Administração de Liquicá, e de Felismina Alves Lobato, natural de Malurucumo/Macadique, Posto Administrativo de Uatolari, Administração de Viqueque. (O avô materno Domingos da Costa Alves, natural de Samoro, Soibada, foi catequista em Uatolari, dai o facto da mãe ter nascido em Malurucumo/Macadique).

Os pais tiveram 13 filhos sendo 1. Nicolau dos Reis Lobato o primogénito seguido por 2.António Bosco Lobato, 3.Rogério Tiago de Fátima Lobato, 4.Maria Cesaltina Francisca Alves Lobato, 5.Januario do Carmo Alves Lobato, 6.Domingos Cassiano Maria da Silva Lobato, 7.Luis Francisco de Assunção Alves Lobato, 8.Silvestre Lobato, 9.Madalena de Canossa Alves Lobato, 10.Elga Maria do Rosário Alves Lobato, 11.Jose Bernardo Alves Lobato, 12.Silvestre Agostinho Alves Lobato e 13.Elisa Maria Lobato. De toda esta numerosa prole Rogério Tiago de Fátima Lobato e o único sobrevivente. O pai morreu vítima de doença no dia 26 de Abril de 1976 em Leorema. A mãe foi assassinada no Monte Maubere, Laclúbar, em Julho de 1979. Todos os restantes irmãos, a excepção de Silvestre Lobato, nado-morto, tombaram como combatentes na longa luta de libertação nacional.

Nicolau dos Reis Lobato cresceu até os 13 anos em Soibada, tendo feito os seus estudos primários no Colégio Nuno Alvares Pereira onde teve como colega, entre outros, Alberto da Silva Ricardo, hoje Bispo da Diocese de Dili. Continuou como colega de Alberto da Silva Ricardo no Seminário Menor de Nossa Senhora de Fátima, em Dare, onde concluiu o 5o. Ano de Humanidades com distinção em todas as matérias mas sobretudo em Português e Matemática. Como companheiros da infância teve, para além dos irmãos António e Rogério, António Cesaltino Osorio Soares, Abílio Osório Soares, Luis Viana do Carmo e João Bosco do Carmo, vizinhos e filhos respectivamente dos mestres Fernando Soares e José do Carmo. Nicolau dos Reis Lobato foi baptizado na Paróquia da Imaculada Conceicao de Soibada, Missão Católica do mesmo nome, pelo Padre Januário Coelho da Silva. Teve como padrinho Fulgêncio dos Reis Ornay, régulo de Fehuc Rin, Barique, e colega do pai. Ainda menino foi um dos escolhidos para fazer a figura de anjo durante a famosa peregrinação da estátua de Nossa Senhora de Fátima a Timor em 1951. Recebeu toda a sua formação católica em Soibada e Dare, tendo-se convertido num verdadeiro católico praticante. Devoto de Nossa Senhora de Aitara empenhou-se pessoalmente em transportar a estátua da Virgem escondendo-a num esconderijo conhecido por Anin Kuak, em Soibada, para que não fosse profanada. Protector dos padres católicos durante a guerra teve como confidente e confessor o Padre Francisco Tavares, actualmente Pároco da Missão Católica de Ainaro.

Para confirmar a sua fé católica basta lembrar que, após a invasão e durante o recuo para as montanhas circundantes de Dili, passou por Dare onde pediu ao Padre Ricardo Alberto da Silva para rezar uma missa por Timor-Leste. Tendo terminado a missa e ao despedir-se disse-lhe: - “SE EU MORRER REZE UMA MISSA POR MIM”. Quando morreu o colega fez-lhe a vontade, rezando uma missa pela sua alma.

Tendo desistido de seguir os estudos para ser sacerdote deixou o Seminário em 1965.

Durante os anos que esteve no Seminário foi escolhido pelo Reitor e nomeado durante 3 anos consecutivos Chefe dos seminaristas.. Foi nestes anos que forjou o seu carácter como homem, líder e desportista.

Depois de deixar o Seminário o maior sonho de Nicolau dos Reis Lobato era formar-se em Direito, em Coimbra, Portugal.. Contudo a doença do pai e a educação dos irmãos mais novos assim como a falta de apoio financeiro do então governo português impediram-no de realizar este sonho. No entanto não deixou de prosseguir os estudos secundários no Liceu Dr. Francisco Machado, em Dili, onde tirou com boas notas as cadeiras de Filosofia, OPAN (Organização Politica e Administrativa da Nação) e Português do 7o. Ano, alínea e). Em Dili, após a saída do Seminário, e acolhido, a pedido dos pais, na casa dos tios Armindo da Costa Tilman, primo da mãe, e Lidia da Silva Boavida em Bidau que o trataram como filho. Ai frequentava com assiduidade nos domingos o Paço Episcopal de Lecidere para assistir a missa rezada pelo então Bispo de Dili, Dom Jaime Garcia Goulart.

Em 1966 é incorporado no Exército Português. Completa o CSM (Curso de Sargentos Milicianos) com distinção sendo o 1o. classificado do curso, seguido de João Viegas Carrascalão como 2o. classificado e de Moisés da Costa Sarmento como 3o. classificado.

Este último viria mais tarde a tornar-se seu cunhado por casamento com a irmã Maria Cesaltina Francisca Alves Lobato. O cunhado e irmã foram chacinados barbaramente em Ratahu, Viqueque, em 1979.

Como militar do Exército Português esteve primeiro colocado na Diligência Militar de Bazartete. Após a promoção ao posto de Furriel Miliciano é transferido para a Companhia de Caçadores No.15 em Caicoli onde é nomeado Vago Mestre, responsável pela alimentação de todo o quartel. Ai trava conhecimento com o Primeiro-Sargento TIMANE, natural de Nampula, que, secretamente, lhe fala da luta de libertação nacional de Moçambique.

Tendo cumprido o seu serviço militar obrigatório regressa à vida civil em 1968. Primeiro emprega-se como funcionário da Missão Agronómica de Timor. Aí conhece o Regente Agrícola MARCELINO, natural de Cabo Verde, que lhe fala do PAIGC e da luta de libertação nacional da Guiné e Cabo Verde. Terá então lido secretamente os primeiros livros sobre a luta da libertaçãoo nas então colónias portuguesas da África.

Da Missão Agronómica de Timor transita para a Repartição das Finanças onde ganha o concurso para a categoria de 3o. Oficial. Aí é-lhe dada a tarefa de supervisionar a feitura dos títulos de pagamento de todo o funcionalismo publico.

Enquanto funcionário publico na Repartição das Finanças, Nicolau dos Reis Lobato inicia uma nova fase na sua vida. Conhece Isabel Barreto com quem casa em 1972 na Capela de Bazartete tendo a festa do casamento ocorrido em Laulema, residência dos pais da Isabel Barreto. Os nubentes foram confirmados como Marido e Mulher pelo Padre Simplício do Menino Jesus, missionário originário de Goa e então Pároco da Missão de Liquiçá. Desta relação nasce o filho José Maria Barreto Lobato, único sobrevivente do casal. Mais tarde o filho passaria a chamar-se José Maria Barreto Lobato Goncalves por ter sido adoptado pelos tios José Gonçalves e Olímpia Barreto. A esposa Isabel Barreto Lobato foi brutalmente assassinada no Cais de Dili, no dia 7 de Dezembro, dia da invasão de Timor-Leste pela Indonésia.

Como desportista praticou as modalidades de Voleyball, Basketball e Football tendo-se contudo esmerado na prática da modalidade de Football primeiro no Clube Desportivo da União e depois no Clube Desportivo da Académica.

Em meados de 1974, no seguimento da Revolução dos Cravos de 25 de Abril em Portugal, Nicolau dos Reis Lobato abandona voluntariamente o funcionalismo público português para se dedicar a tempo inteiro à criação da ASDT/FRETILIN e à luta da libertação nacional de Timor-Leste.

Aquando da transformação da ASDT em FRETILIN, no dia 11 de Setembro de 1974, foi-lhe atribuído o cargo de Vice-Presidente.

Nicolau Lobato, na sua qualidade de Vice-Presidente e na ausência impeditiva do então Presidente da FRETILIN, Xavier do Amaral, liderou toda a acção de resposta à investida armada da UDT contra a FRETILIN iniciada a 11 de Agosto de 1975. Assim:

1. Na noite de 11 de Agosto de 1975, com o apoio de Mari Alkatiri, Alarico Fernandes, Mau Lear, liderou um grupo de membros do CCF para a retirada de Dili;

2. A 13 de Agosto nova retirada das montanhas circundantes de Dili para Aileu - Ai-Sirimou;

3. Em Ai-Sirimou chefiou a Delegacao do CCF nos contactos com soldados e Sargentos timorenses no Quartel de Aileu de modo a sensibiliza-los para a situação política e militar em TL;

4. A 15 de Agosto, perante a ausência impeditiva do então Presidente da FRETILIN, e, com a colaboração de alguns membros do CCF, destacando-se aqui Mari Alkatiri, proclamou em Ai-Sirimou a Insurreição Popular Generalizada e Armada, definindo a estratégia de luta Popular e Prolongada; Neste mesmo dia Nicolau, Mari Alkatiri, Alarico Fernandes e mais alguns membros do CCF, assumindo as competências do CCF, fundaram as FALINTIL e criaram a primeira companhia das mesmas Forças;

5. A 17 de Agosto, com uma acção concertada com os soldados e Sargentos timorenses da companhia de Aileu, Nicolau liderou a acção que obrigou os oficiais portugueses a entregarem o Comando da companhia aos Timorenses (Sargento José Silva);

6. A partir desta data, Nicolau liderou todo o processo operacional politico e militar de contra-ofensiva;

7. Durante os meses de Setembro a Novembro, Nicolau Lobato se destacou na definição de estratégias politicas e militares. Sempre foi defensor da necessidade do regresso de Portugal para reassumir a responsabilidade de descolonizar Timor-Leste; Concentrou todos os esforços no sentido de se encontrar um entendimento entre os timorenses como ponto de partida para uma solução politica do conflito;

8. Frustrados todos estes esforços Nicolau Lobato dinamizou o processo que conduziu a Proclamação Unilateral da Independência de Timor-Leste a 28 de Novembro de 1975.

9. No Governo constituído após a Proclamação, Nicolau tornou-se Primeiro Ministro.
10. Em 1977, face a problemas surgidos nas fileiras da FRETILIN, Nicolau foi nomeado Presidente da FRETILIN, Presidente da República e Comandante-em-Chefe das FALINTIL;

11. A 31 de Dezembro de 1978, morreu em Combate no vale de Mindelo, entre Maubisse, Turiscai e Manufahi.


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Canção dedicada ao Presidente Nicolau dos Reis Lobato

Letra de: Mali Leto. Musica de: Mau Bais. Escrita em Moçambique, em 1979

Presidente, Presidente
Camarada Nicolau
Tua morte é evidente
No combate à opressão

Heroicamente tu morreste
Já tombaste no campo da glória
Nos deixaste o teu exemplo
Pr’a nos guiar rumo à vitória

Presidente, Presidente
Camarada Nicolau
Teu exemplo e semente
Da nossa Revolução

Já sem ti nós seguiremos
Nossa marcha até ao fim
Tua obra concluiremos
Teus sonhos realizaremos

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