sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Brasil/Filme investiga empresário que angariou fundos para ditadura

27 novembro 2009/Vermelho http://www.vermelho.org.br
Premiado no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o primeiro filme de Chaim Litewski - "Cidadão Boilesen" - aborda tema pouco discutido: a participação de empresários na repressão aos grupos de luta armada durante a ditadura militar (1964-1985). Para falar sobre o assunto, o diretor escolheu um personagem simbólico: Henning Albert Boilesen, dinamarquês naturalizado brasileiro, presidente da Ultragaz.

Boilesen foi especialmente ativo na coleta de dinheiro junto ao empresariado para financiar a sinistra Operação Bandeirantes (Oban), criada em junho de 1969 pelo 2º Exército e pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP. Organização ilegal, a Oban operava nas dependências de um distrito policial da capital paulista, transformado no mais famoso centro de torturas do país.

Para construir o retrato de Boilesen, assassinado por guerrilheiros em 1971, Litewski adota a mesma estratégia de Orson Welles em "Cidadão Kane": entrevista pessoas que conheceram o personagem. Com seus depoimentos, esboçam uma imagem multifacetada dele. O termo "Cidadão" no título do documentário deixa clara a referência ao filme de Welles.

Litewski obteve depoimentos de pessoas dos dois lados, como o coronel Erasmo Dias, Fernando Henrique Cardoso, dom Paulo Evaristo Arns, Jacob Gorender, Jarbas Passarinho, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, Paulo Egydio Martins, militantes de esquerda, o filho de Boilesen, membros da Oban, amigos do empresário.

O filme traz ainda trechos de cinejornais, arquivos de TV, filmes de ficção, imagens do acervo da família, documentos do SNI (Serviço Nacional de Informação) e da embaixada britânica que permaneceram secretos durante décadas.

Opiniões divergentes se confrontam, como a do filho, que louva o papel do pai de família e nega seu envolvimento com a Oban, ou a de Gorender e outros, que afirmam que Boilesen era sádico a ponto de participar das sessões de tortura. O filme alinhava muito bem os fatos que apresenta, contextualizando-os com eficiência, sem cair no didatismo. Nunca perde o foco em Boilesen, mas não deixa de apontar o tempo todo para o problema maior, o apoio civil à ditadura militar. (Com Folha de S.Paulo)

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