quarta-feira, 14 de maio de 2008

Moçambique/ONU alerta África para perigo de «conflitos urbanos»

Maputo, 13 maio 2008 - O director regional para África e os países Árabes do Programa da ONU para Assentamentos Humanos (UN HABITAT), Alioune Badiane, alertou hoje para o perigo de "conflitos urbanos" em África face à multiplicação de favelas nas cidades.

Numa intervenção no seminário "Impulsionando o crescimento compartilhado: urbanização, desigualdade e pobreza em África", que hoje se realizou em Maputo, palco da 43ª reunião anual do Banco Africano para o Desenvolvimento (BAD), Badiane apelou para a criação de parcerias entre os governos e aquela instituição bancária africana, de modo a inverter o actual cenário.

"Cuidado com os conflitos urbanos", alertou.

Alioune Badiane referiu ser necessário que os governos adoptem "políticas robustas para evitar esta explosão de caniços" e alertou para o perigo de os conflitos urbanos latentes poderem mesmo contribuir para o derrube de governos no continente.

De acordo com um relatório divulgado por ocasião da 43ª reunião do BAD, 12 a 13 milhões de africanos deixarão o campo em direcção às cidades em 2008, agravando a pressão urbana no continente e os desafios que enfrenta, nomeadamente alimentares, de saúde e de infra-estruturas.

O documento, intitulado "Promover um crescimento partilhado: urbanização, desigualdades e pobreza em África", salienta ainda que 60 por cento da população urbana, mais de 250 milhões de pessoas, ganha a vida de forma precária, número que deverá crescer para 350 milhões de pessoas em 2020.

O director da UN HABITAT (sigla em inglês), de nacionalidade queniana, atribuiu a permanência do problema de bairros de lata, em parte, à "má governação, corrupção e falta de vontade política" por parte dos estados africanos.

Em certos países de África, "vemos enormes muros erguidos pelos governos que têm medo de mostrar as favelas", acrescentou Badiane, apontando como solução o reforço da intervenção do BAD no apoio aos países africanos.

"O BAD deve colaborar com outras agências com experiência para melhorar a planificação urbana em África" e "reforçar a capacidade de análise" das sugestões emanadas por um observatório criado pela ONU, vocacionado na avaliação das evolução das cidades mundiais, sugeriu.

"Enquanto não tivermos 75 por cento dos nossos ambientes cadastrados não vamos melhorar a situação urbana em África", disse.

Dados da ONU indicam que até 2030, 60 por cento da população mundial viverá nas cidades, situação que se não for acompanhada de uma boa estratégia de urbanização poderá contribuir para o aumento de favelas dentro das cidades.

E, segundo Badiane, África, o continente mais pobre do planeta, é onde este problema poderá ser notório, visto que a actual tendência revela que "em cada dois segundos nasce uma nova favela" no mundo.

"Os governos deviam prestar atenção ao crescimento das favelas", insistiu Badiane, justificando o facto de todos os continentes estarem a assistir a esta revolução urbana.

Sobre esta questão, a primeira-ministra moçambicana, Luísa Diogo, defendeu que para inverter este cenário é necessário fazer-se "uma exploração equilibrada, regrada e não improvisada dos recursos disponíveis".

Esta estratégia "constitui, sem sombra de dúvidas, uma condição básica para um crescimento e desenvolvimento harmonioso das diversas regiões do países africanos e a preparação de uma vida melhor para as gerações vindouras", referiu.

"A situação de pobreza absoluta e desigualdade social entre as zonas rurais e urbanas exige que as estratégias de desenvolvimento atribuam prioridade ao financiamento de infra-estruturas, nomeadamente estradas, pontes, energia eléctrica e telecomunicações, que possam contribuir para a melhor ligação campo-cidade e assegurar mobilidade de factores de produção de bens entre os diversos mercados", afirmou.

O presidente do BAD, Donald Kaberuka, assinalou que "os pobres urbanos vivem arriscadamente, possuem o seu próprio ambiente, com casas, água, saneamento de meio, mas o risco de contrair o HIV/Sida é muito maior. Muitas crianças vão terminar nas estradas como trabalhadores infantis", disse. (Notícias Lusófonas)

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