sexta-feira, 23 de maio de 2008

Moçambique/Governo em alerta face à violência xenófoba na África do Sul

Maputo, 23 maio 2008 - O Governo de Moçambique decretou quinta-feira uma situação de emergência para fazer face à crise provocada pelo êxodo de milhares de cidadãos moçambicanos que fugiram da África do Sul para escapar à série de violências mortais contra os imigrantes africanos residentes neste país vizinho.

O ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, declarou à imprensa, após um Conselho Ministerial convocado pelo Governo para debater a violência na África do Sul, que o seu país decidiu activar o Centro Nacional Operativo de Emergência (CENOE).

A última vez que se activou o CENOE foi durante as inundações no vale do rio Zambezi em Janeiro e Fevereiro últimos.

O CENOE é o órgão operacional da agência de socorros do Governo, o Instituto Nacional de Gestão de Catástofes (INGC), através do qual este último oferece apoio às vítimas de calamidades.

Baloi confirmou a chegada quarta-feira a bordo de 10 autocarros de 620 moçambicanos que perderam todos os seus bens e que viram impotentes multidões incendiar as suas casas.

O Consulado de Moçambique em Joanesburgo albergou-os em tendas e tomou disposições para os transportar para o outro lado da fronteira.

Estes indivíduos juntam-se a um outro grupo de cerca de 10 mil cidadãos moçambicanos que decidiu fugir da África do Sul usando os seus próprios recursos.

Pelos menos 40 estrangeiros morreram nestes ataques contra imigrantes africanos.

Baloi disse que pelo menos cinco vítimas moçambicanas foram identificadas, apesar de o jornal "Díario de Moçambique" elevar o número de vítimas para oito.

Ele afirmou que o Governo está em contacto com as agências funerárias da África do Sul a fim de tomar as disposições para a inumação destas vítimas.

O chefe da diplomacia moçambicana declarou que o Governo não pode dar estatísticas pormenorizadas sobre os seus compatriotas que regressaram ao país, pois a maioria deles, traumatizados pela violência de que sofreram ou à qual assistiram, preferiram voltar o mais cedo possível às suas províncias ou aldeias de origem.

O êxodo vai piorar, disse Baloi, já que milhares de Moçambicanos estão alojados em centros na África do Sul enquanto aguardam pelo seu repatriamento.

Considerou que a maioria deles precisarão de apoio material e psicológico.

O ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros acrescentou que o Governo pretende dar um apoio imediato aos cidadãos que regressaram ao país sem recursos, mas deve também resolver as consequências a longo prazo, pois se a crise terminar alguns poderão partir de novo para a África do Sul, ao passo que outros precisarão de ajuda para se reinstalar definitivamente em Moçambique.

A maioria dos Moçambicanos, cerca de 50 mil, que trabalham nas minas de ouro da África do Sul e que contribuem de maneira considerável para a economia moçambicana, parecem não estar em perigo.

Baloi declarou que a indústria mineira continuou geralmente calma, pois foram registados acidentes em apenas duas minas, mas eles foram rapidamente controlados.

Nas duas minas, as companhias decidiram pagar os empregados e suspender as actividades até a um regresso à normalidade.

O ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros sublinhou que o seu país e a África do Sul mantêm boas relações, nomeadamente na harmonização das suas posições para resolver os problemas de luta contra a pobreza.

"O que é importante para nós é fazer face a este problema de maneira calma para evitar qualquer acto de represálias, que teria graves consequências", disse.

Contactos estão em curso entre os dois Governos e Baloi afirmou que a decisão do Presidente sul-africano, Thabo Mbeki, de enviar o Exército às cidades mostra que existe uma vontade política para pôr termo à violência.

No entanto, alguns órgãos de comunicação moçambicanos são menos diplomáticos do que o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Um editorial divulgado quinta-feira pelo jornal independente "Mediafax" perguntou: "Porque estas eminentes personalidades sul- africanas que beneficiaram da protecção do povo moçambicano e que são agora líderes ou empresários não se pronunciam para proteger os Moçambicanos?". (Notícias Lusófonas)

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