terça-feira, 11 de março de 2008

África e América Latina/DIÁLOGO ENTRE OS POVOS

Manoela Roland*

Agência IBASE / http://www.ibase.br

IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

O Projeto Diálogo entre os Povos constitui uma plataforma entre organizações e movimentos da sociedade civil africana e latino-americana para troca de informações e experiências, visando a construção de um espaço de solidariedade inter-regional a partir da cooperação e que seja capaz de identificar e fortalecer, de forma mais propositiva, as diferentes lutas anti-globalização existentes em ambas as regiões.

O projeto está sendo desenvolvido a um ano e tem previsão de duração até 2010. O ano de aprendizado coletivo levou à conclusão de que o processo de diálogo ainda exige a identificação de uma metodologia própria, além dos pontos/temas/causas e questões que poderiam permitir a criação de um campo de interesses comuns, que leve em consideração a grande diversidade de países, movimentos e perspectivas políticas envolvidas no processo.

Assim, duas linhas foram escolhidas para guiar os trabalhos neste período de três anos: “lutas, resistências e alternativas para modelos de desenvolvimento com ênfase na dimensão de bens comuns da natureza” e “democracia e integração solidária entre os povos”.

Com relação à primeira linha, dois focos foram definidos: “a ação das corporações transnacionais” e “os projetos de integração através da infra-estrutura”. Já a segunda, relativa à questão democrática, parte da compreensão de que as lutas e mobilizações por um desenvolvimento mais democrático e a favor dos pobres deve atuar em duas frentes principais: primeiro, é essencial a criação de instituições sociais e políticas operantes frente ao Estado e que sejam capazes de representar efetivamente e democraticamente identidades e interesses tão distintos, produzindo-se práticas sociais e políticas mais democráticas durante este processo.

A segunda frente, necessariamente ligada à primeira, refere-se à importância de se democratizar o Estado e à capacidade de se influenciar na criação de políticas mais equitativas e inclusivas para os povos. O que volta a nossa atenção para a análise dos projetos de integração regionais.

Dentre os principais resultados esperados até 2010, está o aumento do conhecimento comum compartilhado entre as organizações rurais envolvidas no projeto, assim como redes e movimentos sociais sobre suas diferentes realidades e lutas, mostrando possibilidades de conexões entre essas lutas. Outro ponto é a possibilidade das organizações e movimentos, principalmente de agricultores(as) e de mulheres, terem uma participação mais qualificada nos diferentes processos de articulação regionais anti-globalização e no próprio processo Fórum Social Mundial.

Para tanto, há o reconhecimento da importância de se desenvolver uma matriz metodológica, criada a partir do diálogo entre as organizações, redes e movimentos, que possa ser utilizada nas atividades do projeto, mas que seja capaz de transpô-las, servindo também para a criação de um espaço politico inter-regional diferenciado.

Reafirma-se a importância dessa iniciativa, e a enormidade de desafios em comum no enfrentamento do capitalismo global, vivenciados tanto pelos países da América Latina quanto Africa. E para dar início às atividades será realizada reunião sobre metodologia e um seminário com o tema “agrocombustíveis e eucalipto”, que deverá ocorrer, em maio, no Zimbabwe.

Esse é um processo que não visa à criação de uma nova rede, mas o fortalecimento das iniciativas existentes, mediante a intensificação do diálogo entre os diferentes movimentos e organizações para ajudar a transformar nossas ações em medidas mais propositivas e que possam representar um enfrentamento mais substancial ao capitalismo na África e América Latina.

Fazem parte dos grupos de referência do projeto as organizações Trust for Community Outreach and Education, sul-africana; Namibia National Farmers Union; African Institute for Agrarian Studies, do Zimbabwe; Women on Farmers Project, também sul-africana e União Nacional de Camponeses, de Moçambique. Do lado latino-americano Ibase, Instituto Paulo Freire; Cfemea; Articulación Feminista Marcosur e MST.

*Pesquisadora do Ibase

Publicado em 22/02/2008.

http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&pid=2219

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