sábado, 23 de junho de 2007

Lula culpa ricos por fracasso em Doha; Bush critica o Brasil

A saída do Brasil e da Índia da reunião do G-4, em Potsdam, Alemanha, provocou uma troca de acusações entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, cada um responsabilizando o outro lado pelo bloqueio ao acordo agrícola da Rodada Doha. Lula lamentou o fracasso das negociações e culpou "o lado de lá" – os norte-americanos e os europeus. Lula não expressou qualquer arrependimento com a decisão tomada por Brasil e Índia de abandonar as negociações no âmbito da OMC.

Em Washington, o porta-voz da Casa Branca declarou nesta quinta-feira (21) que Bush ficou "desapontado" com o fracasso da reunião em Potsdam. O presidente norte-americano culpou Brasil e a Índia pelo insucesso do encontro. "O presidente está desapontado com certos países que estão bloqueando uma oportunidade de expandir o comércio global", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto.

"Grandes economias como Brasil e Índia não deveriam ficar no caminho do progresso das nações pequenas, das (nações) pobres em desenvolvimento - mas isso parece que foi o que aconteceu na Alemanha nesta semana", disse Fratto. Ele disse que os Estados Unidos mostraram flexibilidade nas negociações comerciais na Alemanha, mas o acordo proposto não foi "o mais interessante para os Estados Unidos e certamente ninguém no Congresso dos EUA poderia esperar que concordássemos".

Para Lula, Brasil fez o possível
Lula foi avisado da decisão por um telefonema do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O presidente estava em Belo Horizonte, participando da entrega de obras. "Acho que o Brasil agiu bem", disse ele a seus interlocutores, segundo apurou o Valor. "Não deu, não houve acordo, mas acho que fizemos o possível. A intransigência está do lado de lá."
O presidente referiu-se às dificuldades da União Européia e dos Estados Unidos em ceder mais na questão dos subsídios e do protecionismo ao setor agrícola. "Fomos até o limite que era possível para nós. Mais do que isso, era impossível", afirmou o presidente.

Lula estava otimista quanto ao êxito da Rodada Doha, mas sempre considerou que os países emergentes já haviam cedido o bastante. Além disso, criticava a ausência de contrapartidas por parte de norte-americanos e europeus.

Posição da União Européia
A expectativa do Brasil é de acelerar acordos bilaterais, se a Rodada Doha fracassar de vez. O principal acordo envolve o Mercosul e a União Européia. Mas nesta quinta-feira mesmo, no rastro do fiasco de Potsdam, a comissária européia de Agricultura, Mariann Fischer Boel, foi incisiva. Numa mensagem indiretamente endereçada ao Brasil, avisou que os ganhos no bilateral não vão chegar ao que se poderia ganhar com a negociação de Doha.

"A UE estava preparada para cortar em mais de 50% as tarifas, eliminar subsídios à exportação até 2013, reduzir em mais de 70% os subsídios domésticos. É claro que não vamos alcançar o mesmo nível no bilateral"', disse. Indagada depois se era tempo de retomar logo a negociação UE-Mercosul, disse que isso está previsto de todo jeito.

Fischer Boel exemplificou que, na Rodada Doha, só o tamanho do acesso adicional de carne bovina ao seu mercado seria maior do que toda a exportação argentina do produto. A idéia, segundo negociadores, era de jogar a exportação que o Brasil, Argentina e outros fazem extra-cota, com tarifa maior, para uma cota, com tarifa menor. Mas o tamanho da cota é muito inferior ao que os exportadores demandam e negociadores dizem que os europeus exageram no impacto do que oferecem.

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